Folha de S. Paulo


Filme 'Night Moves' discute limite do ativismo ecológico no Festival do Rio

O produtor brasileiro Rodrigo Teixeira ("Heleno") e a diretora americana Kelly Reichardt ("Wendy and Lucy") devem ter deixado o sistema de vigilância de Barack Obama em alerta máximo.

O longa "Night Moves", produzido pelo paulista e dirigido pela cineasta da Flórida, investiga os limites entre o ativismo e o terrorismo ecológico. Uma discussão que tomará forma hoje, quando o filme faz sua première para convidados no Brasil, na programação do Festival do Rio.

Na segunda (30) e na quinta (3) haverá sessões abertas ao público, no Rio.

Divulgação
Dakota Fanning, Jesse Eisenberg e Peter Sarsgaard planejam explodir uma barreira em 'Night Moves', de Kelly Reichardt
Dakota Fanning, Jesse Eisenberg e Peter Sarsgaard planejam explodir uma barreira em 'Night Moves', de Kelly Reichardt

"O filme não é sobre terrorismo e não tem conotação política", diz a cineasta em entrevista à Folha durante o Festival de Veneza, onde "Night Moves" foi recebido com certa frieza.

"Eu poderia ter feito um filme com um personagem que tem certeza absoluta sobre a consequência de seus atos. Seria muito fácil, mas não eu não queria passar nenhuma mensagem. Meu interesse era falar sobre pessoas que dedicam suas vidas a certas causas."

Neste caso, Kelly usa um trio de personagens para investigar vários aspectos do radicalismo ecológico. Jesse Eisenberg ("A Rede Social") faz Josh, um jovem que deixou tudo para trás e mora em uma comunidade autossustentável; Dakota Fanning ("Crepúsculo") faz Dena, uma riquinha com sentimento de culpa; e Peter Sarsgaard ("Educação") é um ex-soldado especializado em explosivos.

Juntos, os três planejam explodir uma barragem que faz parte de um complexo hidrelétrico no Oregon, Estado onde vive o roteirista Jon Raymond, para mostrar "a real para aquelas pessoas que matam milhões de salmões para que possam ouvir a porcaria do iPod o tempo todo", como descreve Josh.

EXPLODIR COISAS

"É impossível ficar alheio ao que está acontecendo nos EUA. A mudança de paisagem causada pelas companhias de gás natural é radical. Nenhuma floresta entre Nova York e Oregon está intacta, todas possuem clarões, rios secos", conta a diretora.

"É fácil entender de onde vem a raiva desses grupos e porque alguns jovens viram idealistas radicais e colocam as vidas em risco, mesmo de forma inocente."

Apesar de Kelly Reichardt se esconder atrás de declarações como "Eu não sou tão inteligente, nasci na Flórida", ela admite que o tema em um país que volta e meia precisa lidar com bombas e ameaças é controverso.

"Todos os lados têm uma boa razão", diz ela. "Há o idealismo real em relação à proteção do meio ambiente. Há loucos que não admitem nenhum tipo de consumo e há gente que gosta de explodir coisas. Não apoio atos de violência, mas não deixo de sentir algo bom quando vejo pessoas indo às ruas para protestar, sabe?"

Editoria de Arte/Folhapress

Mesmo assim, ela garante que a explosão da barragem no filme, nunca mostrada, não foi uma forma de amenizar o tema. "A cena foi escrita dessa forma. Não mudei nada. Não teria sentido abandonar meus personagens para mostrar uma grande explosão em outro local."

"Night Moves" não justifica ações terroristas e mostra como a empolgação por atos extremos pode provocar uma série de efeitos colaterais. Mas longa teve dificuldade de ser financiado nos EUA e recebeu injeção de dinheiro da brasileira RT Features, de Rodrigo Teixeira. "Eles são uns babacas, pessoas cruéis", brinca a diretora sobre a relação com os produtores.

"Quantas pessoas se dispõem a financiar um longa, trabalham quando visitam o set e entregam sugestões boas sem pressão para mudar o filme? Parece que todo mundo é alegre no Brasil. Vou tentar pegar o máximo de dinheiro deles!"

NIGHT MOVES
QUANDO dia 30 (segunda), às 16h30 e às 21h30
ONDE Kinoplex São Luiz 3 (r. do Catete, 311, Catete; tel.: 0/xx/21 2461-2461)
QUANTO R$ 18
CLASSIFICAÇÃO não informada


Endereço da página: