Folha de S. Paulo


Rodrigo Amarante, ex-Los Hermanos, lança o disco do 'eu sozinho'

Quem olha para a carreira de Rodrigo Amarante, 37, enxerga uma pessoa gregária, que sempre trabalhou em grupos e parcerias, desde o Los Hermanos até o Little Joy, passando pela Orquestra Imperial e, mais recentemente, pela banda do americano Devendra Banhart.

Em que momento, então, veio a opção pela individualidade de um disco solo, o recém-lançado "Cavalo", no qual ele fez todas as canções e tocou quase todos os instrumentos?

Crítica: 'Cavalo', de Rodrigo Amarante, é marcado por melancolia e vazios

"Foi mais uma dessas coisas que foram acontecendo, e eu segui a sugestão do acaso", diz Amarante, entre um cafezinho e um cigarro pós-almoço, num restaurante em Botafogo, zona sul do Rio, em frente ao estúdio onde estava ensaiando para a turnê que começa hoje, no Sesc Pompeia, em São Paulo.

Elliot Lee Hazel/Divulgação
O músico Rodrigo Amarante, ex-Los Hermanos, que lança seu primeiro disco solo, 'Cavalo
O músico Rodrigo Amarante, ex-Los Hermanos, que lança seu primeiro disco solo, 'Cavalo'

"Comecei a fazer o disco em 2011. A gente estava para fazer o segundo do Little Joy, mas não deu tempo, o Fabrizio [Moretti] tinha de voltar para o Strokes [onde é baterista], e eu pensei em fazer um disco sozinho."

Já havia a curiosidade de descobrir como seria a parte prática de criar uma obra sem mais ninguém --e, nisso, ele foi fundo, começando com a construção do estúdio ("Soldei todos os cabos, construí os painéis acústicos", diz) e chegando à gravação num esquema "aperta o REC e corre para tocar".

Mas havia também o interesse por encontrar uma voz própria, "descobrir qual seria a minha música sozinho".

Àquela altura, Amarante já estava havia dois anos em Los Angeles, onde reside até hoje --nem tem mais apartamento no Rio. O isolamento que a condição de ser estrangeiro traz o ajudou a se encontrar.

"Quando você se muda para outro país, se dá conta de quanta coisa carrega e começa a pensar para que serve aquilo. Tem muita coisa que foi importante, mas que você não precisa carregar, a memória dá conta de te levar até ela. Então o disco tem a ver com isso."

AUTOCONHECIMENTO

Vem daí um certo tom saudoso e melancólico que se nota em boa parte das composições.

"Mas não é uma coisa 'estou aqui pintando minha tristeza para você poder ficar triste comigo'. É o oposto, estou encantado com o processo de tentar me conhecer."

Lançado inicialmente em formato digital, no iTunes --o disco físico estará à venda, em CD e LP, no próximo mês--, "Cavalo" é, segundo seu criador, uma obra dinâmica, que "cresce e se retrai" ao longo de suas 11 faixas, quatro delas em inglês e uma em francês.

"Dentro do processo, vi que estava preferindo as músicas mais vazias, tanto no sentido do arranjo quanto no da escrita, que era algo que eu já vinha fazendo, tentando me abster de adjetivos, deixar um espaço, não ser definitivo."

Esse mesmo raciocínio minimalista acabou aplicado à capa do disco: inicialmente, ela seria um desenho feito pelo próprio Amarante, mas virou uma não capa.

"Eu fui limpando e me perguntando: para que serve a capa, o que eu quero com ela? E decidi que não queria. Não existe uma direção, por mais sutil que seja, para você chegar no disco. É puramente informativo, é um encarte, como se a capa tivesse se perdido. Você tem que ouvir."

IDIOSSINCRASIAS

Amarante diz ter "ouvido muito" por conta da decisão pouco ortodoxa. Não foi sua única idiossincrasia: ele também não quis que a Folha fizesse fotos suas para ilustrar a entrevista, preferindo enviar imagens produzidas por um fotógrafo para a divulgação do disco.

Em outra escolha que deve gerar comentários, não incluirá nenhuma músicas de suas outras bandas nos shows da turnê atual, que já tem os ingressos esgotados para os três dias em São Paulo.

"Não me sinto à vontade de subir no palco e dizer 'essas músicas são minhas'. Não são minhas, são do Los Hermanos", diz ele. O repertório terá as canções de "Cavalo" e outras que não entraram no disco, incluindo algumas criadas posteriormente.

Quanto ao futuro próximo, Amarante não tem planos com suas ex-bandas --sua cabeça já está em seu segundo álbum solo.

"Tô doido pra fazer outro disco. Sinto que, no tempo em que demorou pra fazer esse, eu entendi muita coisa." Entendeu, por exemplo, que quer fazer algo completamente diferente.

"Esse primeiro disco eu fiz totalmente livre. O segundo eu quero fazer ao contrário: totalmente restrito. Já tenho um plano cheio de regras, com tempo limitado para a composição de cada canção, com uma forma de gravar, uma quantidade de canais bem enxuta."

RODRIGO AMARANTE
QUANDO quinta, sexta e sábado (26, 27 e 28), às 21h30
ONDE Sesc Pompeia (r. Clélia, 93; tel. 0/xx/11/3871-7700)
QUANTO R$ 30 (ingressos esgotados)
CLASSIFICAÇÃO 18 anos


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