Folha de S. Paulo


'O jazz ainda faz sentido', diz contrabaixista Ron Carter

Ron Carter, talvez o mais famoso contrabaixista de jazz vivo, se apresenta com seu trio hoje e amanhã no Tom Jazz, em São Paulo.

De toque firme e cristalino no seu contrabaixo acústico, com estilo erudito, Carter é um dos inventores do léxico do instrumento no gênero.

Influente há cinco décadas, ele estima ter participado de mais de 2.000 gravações, incluindo discos com o famoso quinteto de Miles Davis que contava com Herbie Hancock, Wayne Shorter e Tony Williams. Carter também participou dos cultuados álbuns da fase americana de Tom Jobim, como "Wave", "Tide" e "Stone Flower".

Eric Gaillard/Reuters
O contrabaixista Ron Carter, no Festival de Jazz de Nice, na França, em 2012
O contrabaixista Ron Carter, no Festival de Jazz de Nice, na França, em 2012

Em entrevista por telefone, de Nova York, o músico de 76 anos conversou com a Folha sobre o papel da música improvisada hoje em dia.

"O jazz ainda é importante, ainda é muito relevante", afirmou o contrabaixista. "É um ponto de vista único, uma maneira de um músico se expressar em seu instrumento. A música expressa o que pensamos, conta nossas histórias. O jazz é essencial, algo que ainda faz sentido."

Carter se apresenta acompanhado de Russell Malone na guitarra e de Donald Vega no piano --formação interessante: clássica mas nem tão usual, trio sem bateria.

"Toda formação tem sua graça especial. Com esse formato de trio, venho tocando há cerca de 15 anos", conta.

"Tocar assim foi uma decisão consciente de minha parte, inspirada no trio de Nat King Cole nos anos 1940, com piano, baixo e guitarra. Havia também o trio de Ahmad Jamal no começo de carreira, em Pittsburgh [nos EUA]. Não é uma ideia nova, mas é uma maneira que encontrei de criar um evento musical único a cada apresentação."

Lição importante, que ele diz ter aprendido quando tocava com Miles Davis, no começo dos anos 1960. "Ele me ensinou que toda noite é uma ótima oportunidade para tocar música bonita. Aprendi isso todos os momentos tocando com ele", afirma.

INFLUÊNCIA BRASILEIRA

Carter também se recorda da importância da música brasileira em sua história. Tom Jobim era "uma pessoa muito calorosa" e a primeira vez que ouviu sons modernos brasileiros foi na trilha do filme "Orfeu Negro", de 1959.

Até hoje, é comum o baixista apresentar em seus shows uma longa e lírica versão de "Samba de Orpheu", de Luiz Bonfá, da trilha do filme.

"A música brasileira trouxe melodias incríveis e um senso harmônico maravilhoso para o jazz", diz. "Foi uma influência enorme em toda a música popular americana".

RON CARTER TRIO
QUANDO terça e quarta (24 e 25), às 20h e às 22h15
ONDE Tom Jazz (av. Angélica, 2.331, tel. 0/xx/11/3255-3635)
QUANTO R$ 250
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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