Folha de S. Paulo


Bandas brasileiras aproveitam Rock in Rio para protestar

Além das músicas, um outro componente chamou a atenção durante o show do Skank neste sábado (21) no Rock in Rio.

No meio de "É Proibido Fumar", enquanto o público adicionava ao refrão o tradicional grito de "Maconha!", o vocalista Samuel Rosa disse: "Pois é, fumar maconha não pode, mas Mensalão pode fazer de novo, né?"

A manifestação de Samuel Rosa não foi a primeira deste Rock in Rio. No sábado passado (14), o Capital Inicial já havia entrado na onda dos protestos.

"Poucas coisas nos dão mais prazer do que rock and roll e falar mal de político", disse Dinho Ouro Preto. "Não sei o que é pior: Natan Donadon, o primeiro presidiário congressista, ou o Congresso, por deixar ele lá."

"Fechem os olhos e elejam o [alvo de protesto] de vocês. Eu escolho o parlamento brasileiro, pelo conjunto da obra", bradou o vocalista, antes de colocar um nariz de palhaço para cantar "Saquear Brasília" ("Eles mentem e não sentem nada. Eles mentem na sua cara").

No fim do show, o público puxou um coro de "Que País é Esse?", na tentativa de ouvir um dos clássicos hits de protesto brasileiro. Porém, o Capital gastou os minutos finais de sua apresentação coreografando uma foto da banda com a galera ao fundo pra postar no Facebook. Dinho puxou o coro: "1, 2, 3 e... Do caralho!"

Na tarde do mesmo dia, o tributo a Raul Seixas transformou-se num protesto contra o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e a proibição de usar máscaras durante os protestos de rua.

"Ditadura não, revolução", gritou o vocalista, Tico Santa Cruz, que também cobriu rapidamente o rosto, lembrando os protestantes mascarados.

"Tenho certeza de que, se Raul Seixas estivesse vivo, ele estaria nas ruas se manifestando com todo o povo brasileiro", disse, antes de cantar "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás".

Em outro momento do show, ele incentivou o grito de protesto que crescia na plateia: "Vocês querem dar seu recado? Podem dar", disse, virando o microfone para o público, que gritava "ei, Cabral, vai tomar no cu", referindo-se ao governador do Rio.

Logo após o fim do show, a frase "Ei Cabral" chegou a liderar a lista de assuntos mais comentados no Twitter.

"A gente não precisa se mascarar não, embora isso seja uma atitude democrática. Quem está mascarado é quem vota secreto no Congresso Nacional", disse Santa Cruz, que usava uma camiseta com os dizeres "Senado Federal, vergonha nacional".

HISTÓRICO

Ao longo de sua história, o Rock in Rio já foi palco de diversas manifestações políticas --o primeiro RiR ocorreu em um momento de efervescência nacional.

Um dos primeiros casos ocorreu em 16 janeiro de 1985, um dia após a eleição indireta do presidente Tancredo Neves, depois de 21 anos de ditadura, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, fez um discurso politizado no segundo dia de festival.

"Ontem foi escolhido o novo presidente do Brasil e a gente vai ver aquela careca na TV por um bom tempo. Mas a gente espera que alguma coisa de bom seja feita. Já que 'a gente não sabemos escolher presidente', já que escolheram pela gente, a gente vai tocar uma música de um grupo de São Paulo genial."

Na sequência, ele tocou a música "Inútil".


Endereço da página:

Links no texto: