Folha de S. Paulo


Opinião: Excesso de tributos a ídolos mortos marca a pior edição do festival

Capital Inicial homenageia Chorão, Champignon e Renato Russo. Detonautas, Zeca Baleiro e Zélia Duncan tocam Raul. Maria Gadú, Rogério Flausino, Bebel Gilberto e Ney Matogrosso cantam Cazuza. Maria Rita faz tributo a Gonzaguinha. Marky Ramone toca Ramones. Sebastian Bach revista sua ex-banda, Skid Row. Frejat canta Tim Maia.

O Rock in Rio 2013 lembra o Dia dos Mortos, a tradicional festa mexicana que celebra aqueles que se foram.

Não há maneira mais fácil de dar uma turbinada em um show do que homenagear ídolos mortos. Todo mundo gosta: fãs mais velhos choram de saudades e fãs mais novos choram pelo que não viram. É bater em bêbado.

Ninguém é contra prestar tributo a nomes importantes da música. Bruce Springsteen fez uma surpreendente versão de Raul Seixas em São Paulo na última quarta e quase pôs o lugar abaixo.

O problema é quando esse artifício é usado com tanta frequência que parece esconder a fraqueza das atrações.

Se um festival apela tanto à música dos mortos, é porque há algo errado com a música dos vivos.

O Rock in Rio é um imenso evento corporativo, com 85 mil pessoas por dia. Parece um shopping center com um show no meio. Não há um metro quadrado sem um anúncio ou uma promotora de sorriso falso distribuindo brindes de patrocinadores.

Ninguém espera do festival uma seleção de artistas alternativos e desconhecidos.

Mas, com sete atrações principais tão grandes --Beyoncé, Muse, Justin Timberlake, Metallica, Bon Jovi, Bruce Springsteen e Iron Maiden-- bem que o festival poderia se preocupar também com quem gosta de música boa e não apenas em pular de tirolesa (na sexta, o tempo de espera era de seis horas).

Musicalmente, esta foi a pior das cinco edições do Rock in Rio, pelo menos até agora. Tirando Bruce Springsteen, as atrações eram fracas ou velhas conhecidas do público. Metallica, Muse e Beyoncé estiveram recentemente no país. O Iron Maiden praticamente vive aqui. Não houve --pelo menos até sexta-- uma grande surpresa.

Mas nem sempre foi assim. O Rock in Rio já foi musicalmente relevante. O primeiro festival, em 1985, marcou pelo pioneirismo e trouxe Queen, AC/DC, Ozzy, Yes, B-52's e Iron Maiden.

Já a edição de 2001 trouxe Neil Young & Crazy Horse, Foo Fighters, R.E.M., Oasis, Red Hot Chili Peppers e Beck.

Nas últimas duas edições, o Rock in Rio parece ter abandonado qualquer resquício de ousadia na escolha do elenco, optando por artistas que garantem bilheteria, mas que não resultam em um festival musicalmente relevante ou memorável.

Será que alguém lembrará do Rock in Rio 2013 pela música? Ou pela tirolesa?


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