Folha de S. Paulo


Opinião: Nickelback faz apresentação boa com música ruim

Nem tudo que é popular presta. Estão aí o sushi de cream cheese e a zaga do Flamengo para comprovar. E o Nickelback, claro.

A banda canadense, uma das maiores atrações da noite de sexta-feira (20) no Rock in Rio, já vendeu 50 milhões de discos. Segundo a revista norte-americana "Billboard", é a mais popular banda de rock da última década. O que diz muito sobre o rock da última década.

É difícil definir o som do Nickelback. Pós-grunge? Hard rock épico? Metal de arena?

Na verdade, o Nickelback vem de uma longa linhagem de bandas iniciada com --acredite-- o Aerosmith, lá nos anos 1970: os cultores da balada hard rock de FM.

Sim, a culpa é de Joe Perry e Steven Tyler. Foram eles que inventaram o som pesado que meninas podiam gostar. O Aerosmith é o pai de todas essas megabandas que já botaram 50 mil pessoas para cantar junto. Pense em Def Leppard, Bon Jovi e...Nickelback. Não seria errado dizer que o Nickelback é a versão grunge do Bon Jovi.

O show do grupo canadense no Rock in Rio --o primeiro deles no Brasil-- foi muito bom, se você é uma menina de 17 anos e ama o Nickelback. Os caras tocam muito, parecem modelos, são carismáticos e têm um show cuidadosamente ensaiado para parecer espontâneo.

É uma banda claramente guiada por produtores. Sua música mistura heavy metal, baladas pop e hard rock, sem nunca soar agressiva em excesso, mas com pitadas de rebeldia programada que dão ao molho um leve toque de perigo.

O vocalista, Chad Kroeger, guiou a multidão como um mestre de cerimônias. Fez juras de amor ao Brasil, pediu aplausos e, profissional que é, anunciou todas as músicas que a banda ia tocar, com cuidado para dizer de que disco eram. Atenção, indies do mundo, é assim que se vende disco!

O problema do Nickelback não é o show, mas sua música. Difícil achar algo tão derivativo e pouco original.

É uma tarefa ingrata dizer para meninas de 17 anos que a banda que elas amam é ruim demais, mas alguém precisa fazer isso.

Garotas, acreditem: alguns artistas são apenas pontes para coisas melhores. Se vocês ouvirem Jamiroquai e Justin Timberlake aos 17 anos, têm uma boa chance de curtir Stevie Wonder aos 19. Com o Nickelback acontece o mesmo: daqui a algum tempo vocês vão superar isso e descobrir Pearl Jam e, com sorte, o Queens of the Stone Age. Depois, é só alegria.


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