Folha de S. Paulo


Brasil tenta conquistar alemães com grafite e música em Frankfurt

A presença do país convidado de Frankfurt costuma ultrapassar as fronteiras da feira do livro e virar uma grande mostra pela cidade, já que a exportação de cultura é vista pelos governos como estratégica para fortalecer a imagem de seus países.

No caso do Brasil, a organização coordenada pela Fundação Biblioteca Nacional e pela Funarte, sob o guarda-chuva do MinC, montou uma programação extensa nas áreas de literatura, música, cinema, artes plásticas e cênicas e fez parcerias com instituições alemãs de relevo.

Brasil chega desorganizado à véspera da Feira do Livro de Frankfurt

Para além da programação oficial, outros eventos aproveitam o mote do país convidado. É o caso do Festival de Literatura de Berlim e do Festival de Bad Berleburg, que neste ano convidaram escritores brasileiros.

Norbert Miguletz/Divulgação
Obra do grafiteiro brasileiro Onesto em fachada de Frankfurt
Obra do grafiteiro brasileiro Onesto em fachada de Frankfurt

Somando tudo, 480 eventos sobre o Brasil acontecerão na Alemanha dentro do contexto de país convidado. A Nova Zelândia, convidada de 2012, teve 420 eventos.

Nas artes visuais, dois dos principais museus de Frankfurt montaram exposições sobre o Brasil. O Schirn abre em outubro a "Brasiliana", com instalações de artistas como Cildo Meireles, Tunga, Lygia Clark, e a "Street-Art Brazil", que já rendeu grafites de 11 brasileiros pela cidade.

"Ficamos absolutamente surpresos com a qualidade dos grafites", diz Max Hollein, diretor da Schirn. As duas mostras custaram 2 milhões de euros, sendo que o Brasil, via Funarte, financiou parcialmente a de grafite.

Já o Museu de Arte Moderna de Frankfurt apresenta retrospectiva da obra do brasileiro Hélio Oiticica.

Editoria de Arte/Folhapress

Enquanto grandes exposições foram negociadas com antecedência, o restante da programação começou a ser definido há 14 meses, quando o curador Antonio Martinelli, que veio do Sesc São Paulo, foi contratado.

"Uma das marcas dos eventos de Frankfurt foi de fato o tempo curto. Mesmo assim, honramos todos os compromissos e conseguimos parcerias com instituições importantes", diz Martinelli.

TEATRO E DANÇA

Para ele, o maior desafio foi montar a programação de artes cênicas. "A música e as artes plásticas brasileiras dispensam apresentação, mas nossa produção em teatro e dança é desconhecida dos alemães." Essa programação, com 12 eventos, foi toda fechada com o Mousonturm, referência no teatro alternativo de Frankfurt.

Em geral, o Brasil cobre cachê e custo de viagem dos artistas, enquanto o parceiro alemão assume gastos com equipe e produção técnica, mas fica com a bilheteria.

Em literatura, além dos eventos durante a feira, haverá leituras e conversas com autores em locais como a Biblioteca Central e a estação central de trem de Frankfurt.

Os shows que abriram a programação dão, por enquanto, pistas insuficientes sobre a receptividade do público alemão a esse esforço.

Em agosto, Lenine, Barbatuques e Criolo tocaram em Frankfurt, no festival Museumsuferfest. As chuvas reduziram o público --900 mil pessoas em três dias, ante 1,3 milhão em 2012-- e afetaram o entusiasmo da plateia.

Dias depois, no parque Palmengarten, foi a vez de Lucas Santtana, Jards Macalé e Jorge Mautner. As canções em inglês e com influência eletrônica não empolgaram a plateia, e cerca de um terço saiu do show na metade. Mais tarde, com irreverência, Mautner levantou o púbico, formado em boa parte por brasileiros que vivem na Alemanha. (RC)


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