Folha de S. Paulo


Em seu 1º filme em Hollywood, Wagner Moura machuca o joelho e pega pneumonia

"Elysium", ficção científica de US$ 115 milhões, não marca apenas a volta de Neill Blomkamp, diretor do premiadíssimo "Distrito 9" (2009). É também é a estreia do ator brasileiro Wagner Moura em Hollywood ao lado de Matt Damon, Jodie Foster e da amiga Alice Braga.

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A experiência não foi tão glamourosa quanto se esperaria de uma superprodução americana. "Pensei que Wagner Moura não sobreviveria a 'Elysium'", conta à Folha Blomkamp, num misto de seriedade e diversão sádica.

"Eu estava assistindo a uma cena de perseguição pelo monitor e, de repente, ele sumiu do enquadramento. Senti que algo de ruim tinha acontecido e corri em sua direção. Wagner escorregou e caiu com tanta força em cima do joelho que precisamos parar de trabalhar naquele dia."

Como o brasileiro interpreta uma mistura de hacker e líder revolucionário com um problema na perna, a produção continuou, mas a deficiência não veio a calhar.

"Adoraria dizer que foi minha imersão no papel, mas eu caí em cima do joelho esquerdo, enquanto meu personagem manca com a perna direita. Doeu pra cacete", diz o ator, que também torceu o tornozelo filmando "Tropa de Elite" (2009). "Eu sempre vou parar no hospital quando estou fazendo um filme."

Em "Elysium" não foi diferente. Com o joelho recuperado, Wagner Moura voltou a trabalhar normalmente em Vancouver, Canadá, onde a grande maioria das cenas internas foi rodada. Mas, duas semanas depois, ele apresentou um a forte pneumonia e precisou ser internado.

"Nunca fiquei tão doente na minha vida. Estava com uma febre tão forte que eu não conseguia conversar com ninguém de tanto que tremia. Eu pensei que ia morrer", revela o ator, que teve a companhia da amiga brasileira --e companheira de set-- Alice Braga no hospital. "Lili foi maravilhosa. Eu só queria minha mãe, que estava na Bahia. Acho que isso é o mais difícil de trabalhar fora, a distância da família."

TERRA DO FUTURO

Alice faz o par romântico de Matt Damon, que vive Max, um ex-delinquente e parceiro de Spider, o personagem de Moura.

Max tenta sobreviver na Los Angeles de 2154, uma megalópole suja e povoada apenas por quem não tem condições de viajar para Elysium, uma estação orbital onde doenças são curadas por máquinas, o destino da Terra é comandado por políticos poderosos (entre eles, Jodie Foster) e as casas são o sonho dos ricos que moram ali.

"É uma espécie de rua de boutiques japonesas", responde o diretor sul-africano. "Minha inspiração é sempre a realidade. A Terra do futuro é como partes mais pobres da África. Tudo precisa ser crível para o público."

É tudo tão "cru" que Matt Damon sofre. No México para filmar uma das sequências mais impressionantes de "Elysium", o astro precisa derrubar a nave de um poderoso ricaço e sequestrar os dados de sua mente, o que garantiria sua passagem para Elysium, onde seria curado de um envenenamento radioativo que o está matando.

"Filmamos essa sequência em um lixão e literalmente respiramos bosta quando um helicóptero fez um rasante", diz ele.

Na mesma cena, Damon --ao lado do mexicano Diego Luna-- enfrenta robôs usando um exoesqueleto (aparelho que recobre tronco e membros) inspirado em projetos do exército dos EUA, que pesava 11 quilos e levava duas horas para ser ajustado a seu corpo.

"Eu me senti como um carro de Nascar [stock car], com os mecânicos trocando meus parafusos. Mas essas armaduras não inibem meus movimentos. Há protótipos no exército e Doug Liman [diretor de 'Sr. e Sra. Smith'] está usando em seu novo filme. Mas a dele é mais pesada."

Matt Damon só muda o tom de sofrimento quando lembra de trabalhar com os dois brasileiros no set. "Eles foram ótimos, nem tive nenhum trabalho, porque eles elevam o nível no set. É como jogar uma partida de tênis com um bom jogador", compara o americano.

"Eu já conhecia Wagner por causa de 'Tropa de Elite'. Todo ator de Hollywood já viu 'Tropa de Elite'. Quem disser o contrário, é um mentiroso."

Óbvio que, por sua reconhecida polidez, Matt Damon não falaria algo diferente. Mas a recepção de Wagner Moura pelos críticos americanos foi surpreendente.

Todd McCarthy, da "Variety", principal revista de mercado de cinema dos Estados Unidos, foi superlativo, escrevendo que o brasileiro tem a "grandiloquência do finado Raul Julia", referindo-se ao ator porto-riquenho de "A Família Addams" (1991).

Divulgação
Matt Damon (à esq.) interpreta Max, parceiro de Spider, vivido por Wagner Moura
Matt Damon (à esq.) interpreta Max, parceiro de Spider, vivido por Wagner Moura

Mas o desempenho, infelizmente, não livrou a ficção científica de números decepcionantes. Apesar de ter estreado em primeiro lugar nas bilheterias americanas, "Elysium" estacionou nos US$ 82 milhões.

A trajetória internacional, principalmente na América Latina, porém, deve garantir que Blomkamp desafie o esquema hollywoodiano com roteiros inteligentes e novidades no elenco.

"Gosto que meus filmes sejam vistos, mas essa não é minha preocupação", afirma ele, que também diz não querer salvar o mundo. "Não são os filmes-pipoca hollywoodianos que vão mudar a vida de alguém. Não vamos nos levar tão a sério."

* o jornalista viajou a convite da Sony Pictures


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