Folha de S. Paulo


Versão japonesa de 'Os Imperdoáveis', de Clint Eastwood, estreia em Veneza

O faroeste americano cansou de beber da fonte dos filmes japoneses para criar suas histórias cheias de duelos morais e físicos.

"Sete Homens e Um Destino" (1960), por exemplo, é baseado em "Os Sete Samurais" (1954), de Akira Kurosawa.

Então chegou a hora de o cinema japonês se vingar: nesta quinta-feira (5), o Festival de Veneza exibiu "Yurusarezaru Mono", que é a versão nipônica do clássico "Os Imperdoáveis" (1992), de Clint Eastwood.

O filme do diretor Sang-il Lee ("Villain") não traz grandes alterações em relação ao original. Ken Watanabe assume o papel que foi de Eastwood, com quem trabalhou em "Cartas de Iwo Jima" (2006), agora transformado em um ex-samurai que só deseja cuidar dos filhos e da lavoura em uma ilha ao norte do Japão, onde exilados da guerra entre o shogunato e o imperador em 1869. A situação muda quando ele recebe a oferta de um velho amigo (Akira Emoto, que assume o papel que foi de Morgan Freeman) para matar dois bandidos que mutilaram uma prostituta.

Apesar da proximidade entre o ator e Eastwood, a produção japonesa precisou caminhar com os próprios pés. "Clint, digamos assim, é um sujeito muito ocupado", brinca Watanabe. "Mas acho que ele preferiu assim, porque, se fosse muito ciumento, ia acabar prejudicando nosso filme."

Apesar da trama central ser basicamente a mesma escrita por David Webb Peoples há mais de 20 anos, "Os Imperdoáveis" japonês mergulha mais ao fundo no contexto histórico e no uso dos cenários da ilha de Hokkaido, usando o personagem de Yuyu Yagira, que pertence a raça Ainu, nativos de uma área do Japão.

"Poucos os conhecem, até mesmo no meu país", revela Lee. "Foi importante manter essa história para dar mais visibilidade a esse povo, que tem vários problemas para manter suas tradições até hoje."

O problema da versão nipônica da história que faturou os Oscar de melhor filme, diretor, ator coadjuvante e montagem em 1993 é que não traz grandes novidades. Enquanto os americanos transformaram espadas em armas de fogo, os japoneses decidiram manter revólveres e rifles, não apenas causando estranheza, mas tirando todo o charme de um longa de samurai.

"É uma tentativa de fazer algo diferente", explica Watanabe. "A katana [espada do samurai] é sinal do bushido [o modo de vida do samurai, repleto de regras], mas ela virou um simples objeto para meu personagem. Ele não quer vingança, mas apenas ter uma vida pacífica."


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