Folha de S. Paulo


Com Clark e Oiticica inflacionados, galeria estrangeira aposta em outros neoconcretos

Não é de hoje que artistas geométricos brasileiros estão em alta no circuito internacional. Mas passada a febre em torno de dois nomes que viraram emblema do movimento, Lygia Clark e Hélio Oiticica, galerias de fora querem explorar uma segunda leva de nomes, com grande potencial de valorização.

Na mostra que a Hauser & Wirth abre na semana que vem em Nova York, estarão obras de Waldemar Cordeiro e Geraldo de Barros, ambos fundadores do grupo Ruptura e figuras centrais do --menos valorizado até agora-- concretismo paulista, além de nomes quase desconhecidos no exterior, como Rubem Ludolf, João José Costa e Paulo Roberto Leal.

"Não queria me concentrar só em nomes como o Oiticica, mas mostrar todo o período", diz Olivier Renaud-Clément, curador da mostra na Hauser & Wirth, em entrevista à Folha, no Rio.

"O mercado desses artistas já famosos está tão caro que isso se tornou um problema até para compradores nos Estados Unidos e na Europa. Por isso pensei em introduzir outros artistas, como Ivan Serpa e Franz Weissmann."

Edouard Fraipont/Divulgação
Obra de 1951 de Waldemar Cordeiro, artista que estará em mostra na galeria Hauser & Wirth em Nova York
Obra de 1951 de Waldemar Cordeiro, artista que estará em mostra na galeria Hauser & Wirth em Nova York

Outro motivo, além dos preços em alta acelerada, é a dificuldade de encontrar obras de alguns desses artistas. Renaud-Clemént disse que tentou levar peças de Willys de Castro e Hércules Barsotti à mostra nova-iorquina, mas desistiu diante da dificuldade em achar trabalhos que pudessem ser vendidos por lá.

"Fora os artistas famosos, esses nomes não são conhecidos", diz o curador. "Estamos fazendo em Nova York o que ninguém está fazendo no mundo, que é mostrar esses desconhecidos que têm uma linguagem muito próxima dos mestres. É como se olhássemos para os Estados Unidos na época do expressionismo abstrato e só enxergássemos Jackson Pollock."

Renaud-Clemént também adiantou à Folha que incluiu peças de Mira Schendel na exposição aproveitando o grande momento da artista no exterior. Depois de sua retrospectiva no MoMA, em Nova York, há dois anos, Schendel terá agora a maior mostra já dedicada à sua obra na Tate, em Londres, no fim do mês.

Segundo o curador, a Hauser & Wirth também aproveita a exposição para estreitar laços com os herdeiros da artista. Depois que seu espólio deixou de ser representado pela galeria Millan, em São Paulo, outras casas estão de olho no passe da artista, a exemplo do que ocorreu com Lygia Clark, cujos herdeiros firmaram acordo de representação exclusiva de suas obras com a galeria britânica Alison Jacques.


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