Folha de S. Paulo


"Quero que o Papa veja meu filme", pede diretor de "Philomena", favorito em Veneza

Quatro dias foram necessários para o Festival de Veneza finalmente encontrar seu primeiro favorito ao Leão de Ouro. Neste sábado (31), "Philomena", do britânico Stephen Frears ("A Rainha"), foi ovacionado pelos jornalistas e membros da indústria cinematográfica em sua primeira exibição mundial. Os aplausos apareceram não apenas ao fim da produção de forma abundante, mas ao longo de toda a projeção.

É fácil de entender o porquê. O roteiro co-escrito por Jeff Pope e pelo comediante Steve Coogan, que também atua no filme, é uma potente mistura de drama e humor sarcástico, uma fórmula que administrada da maneira errada pode resultar em uma obra melosa ou simplesmente errada.

Não é o caso de "Philomena", que possui todos os elementos nos lugares corretos. Da maravilhosa trilha de Alexander Desplat à direção mais tradicional de Frears. Mas o principal trunfo do filme está na química entre Coogan, um ex-jornalista demitido de um alto cargo no governo inglês após um e-mail "brincando" com os ataques de 11 de setembro, e Judi Dench, uma senhora que, quando jovem, teve o filho roubado de suas mãos das freiras que a mantinham em cativeiro em um mosteiro na Irlanda, nos anos 1960.

A história verídica ganha contornos de filme de "parceria" no estilo "Um Estranho Casal" (1968) quando a filha da ex-enfermeira encontra o jornalista e pede sua ajuda –ele, por outro lado, tenta se recuperar do escândalo que custou seu emprego. Dench está simplesmente apaixonante como uma mulher de bondade e fé quase inabaláveis (ou inacreditáveis), qualidades que servem de antídoto ao humor venenoso de Coogan por todo o filme.

"Encontrei a verdadeira Philomena, que agora está com 80 anos e ela é imensamente engraçada e cheia de vida. Nos demos bem de cara. Não é sempre que tenho a oportunidade de encontrar alguém para que possa capturar sua essência", diz Judi, maior candidata ao prêmio de melhor atriz do festival.

Na verdade, a exibição em Veneza adianta a corrida do Oscar, possivelmente colocando "Philomena" na briga por uma vaga em categorias como roteiro adaptado, atriz para Dench e até melhor filme –a produção foi comprada pelos irmãos Weinstein, dois dos mais poderosos executivos de Hollywood. No Brasil, o filme não tem data ou distribuidora.

Mas a preocupação de Stephen Frears não é com prêmios, ao que tudo indica. Tratando de um tema sério sobre uma instituição da igreja católica que mantém jovens em cativeiro e vende seus bebês para americanos ricos –até a atriz Jane Russell (1921-2011) teria sido cliente–, o diretor só deseja uma coisa: "Quero que o Papa veja meu filme. Ele parece ser um cara bacana."


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