Folha de S. Paulo


Crítica: Filme 'O Mordomo' opõe estilos de luta antirracismo nos Estados Unidos

Maior bilheteria das últimas duas semanas nos EUA, "O Mordomo" se tornou indiretamente a celebração cinematográfica dos 50 anos da Marcha de Washington, na qual Martin Luther King discursou seu "Eu tenho um sonho".

Baseado em uma reportagem do jornal "Washington Post", que retratava um mordomo negro que serviu oito presidentes na Casa Branca, virou uma fábula histórica que conta a luta pelos direitos civis no país até a eleição de Barack Obama.

Ao contrário dos poucos filmes de Hollywood sobre racismo e escravidão, "O Mordomo" não focaliza na epifania de algum personagem branco (e racista) que se torna aliado negro com o tempo.

Efe
Terrence Howard e Oprah Winfrey vivem caso em cena do filme 'O Mordomo'
Terrence Howard e Oprah Winfrey vivem caso em cena do filme 'O Mordomo'

O diretor Lee Daniels (de "Precious" e "The Paperboy") quer mostrar os diferentes caminhos percorridos pelos negros do Sul americano na luta pela igualdade.

O filme acompanha a trajetória do mordomo Cecil Gaines (Forest Whitaker), da fazenda de algodão --onde vê o pai assassinado e a mãe estuprada pelo filho do patrão-- à ocupação de garçom de um hotel cinco estrelas em Washington. Para a Casa Branca, foi um pulo.

O elenco eclético, que vai de Oprah Winfrey, Jane Fonda, Vanessa Redgrave, Mariah Carey, Lenny Kravitz e Cuba Gooding Jr. a John Cusack e Robin Williams (os dois como ex-presidentes), mostra que meia Hollywood quis participar da produção modesta.

"O Mordomo" poderia se transformar em um "Forrest Gump negro", como parte da crítica americana insinuou, mas vai além. Espectador silencioso dos debates raciais no palácio presidencial, o mordomo acha que sua ética de trabalho será suficiente para combater o racismo.

O contrário do que acha seu filho, Earl (o rapper David Banner), que entra em organizações rebeldes. Junto a outros estudantes negros, ele decide se sentar na área exclusiva para brancos de uma lanchonete no Alabama.

O princípio de não-agressão degringola quando uma turba invade o lugar e os estudantes são surrados.

Cenas de linchamentos promovidos pela Ku Klux Klan no Mississippi e na Georgia se intercalam com os jantares de gala na Casa Branca onde o seu pai é o serviçal silencioso e profissional.

Pai e filho se estranham e trombam mais de uma vez, como um debate possível entre Luther King e Malcom X. Com equilíbrio, Daniels acha que as duas militâncias foram necessárias para a transformação racial do país.

O MORDOMO
PRODUÇÃO EUA, 2013
DIREÇÃO Lee Daniels
QUANDO ainda sem data para estreia no Brasil
AVALIAÇÃO bom


Endereço da página: