Folha de S. Paulo


Crítica: Disco megalomaníaco de Jay Z entrega muito menos do que promete

Não deixa de ser irônico que o novo disco do rapper norte-americano Jay Z, "Magna Carta... Holy Grail", faça referência a um documento de 1215 que limitou o poder dos monarcas britânicos.

Pois comedimento, afinal, não é uma palavra que se aplique à carreira do artista de 43 anos --12 álbuns, 50 milhões de discos vendidos, fortuna de R$ 1 bilhão, 17 prêmios Grammy e uma das cem pessoas mais influentes do mundo, segundo a revista "Time".

O que emerge do disco de 16 faixas, que saiu com 1 milhão de cópias vendidas (graças a um acordo com um fabricante de celulares), é alguém bastante ciente do posto que ocupa na música pop. Quase tudo em "Magna Carta" mira o épico.

Lucas Jackson/Reuters
O rapper Jay Z em show realizado em julho, em Nova York, com Justin Timberlake
O rapper Jay Z em show realizado em julho, em Nova York, com Justin Timberlake

Da comparação de si mesmo com Picasso às referências a artistas contemporâneos (Mark Rothko, Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat), passando por um rol de grifes, o cantor se apresenta como um monarca infalível.

O time que dá suporte ao disco é igualmente grandioso.

"Magna Carta" tem os produtores de ponta do hip-hop americano, vide Timbaland, J-Roc, Pharrell Williams e Swizz Beatz, além das participações de Justin Timberlake, Nas, Beyoncé (mulher de Jay Z), Rick Ross e Frank Ocean.

Não é o caso de dizer "tanto para nada", mas é curioso que mesmo tão fornido, o disco esteja tantos passos atrás do que pretende.

Falta a "Magna Carta" letras que deem menos volta em torno do império que Jay Z construiu (de resto, um lugar-comum do rap americano), que martele menos que ele não é um homem de negócios, mas o próprio negócio.

Musicalmente, o disco soa quase nostálgico, de tanto que remete aos seus trabalhos entre o fim dos anos 1990 e o começo dos anos 2000; o esquema rima-batida, sem espaço para muita firula.

O que não é exatamente ruim e, noutras condições, até passaria como chamariz, não fosse um adversário ainda mais perigoso do que os defeitos da própria obra: o também rapper Kanye West.

Se comparado a "Yeezus", de Kanye, lançado poucos dias antes, "Magna Carta" perde o resto da força que tem, embora os dois se equiparem nas letras medianas.

O pulo do gato de Kanye --sem deixar de ser ególatra-- está em surpreender o ouvinte com um disco sujo, conciso e furioso (ouça "Black Skinhead" ou "Blood on the Leaves" para ter certeza), ao passo que Jay Z nada arrisca.

É como se para Kanye, o topo fosse propulsor e, para Jay Z, um terreno confortável.

MAGNA CARTA HOLY GRAIL
ARTISTA Jay Z
GRAVADORA Universal
QUANTO R$ 29,90
AVALIAÇÃO regular


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