Folha de S. Paulo


Atriz baiana será intérprete de Elis Regina em musical

"Quem quiser ouvir ou ver Elis Regina pode recorrer à discografia maravilhosa dela e a vários vídeos no YouTube", recomenda a atriz e cantora Laila Garin, 35, tentando livrar-se do peso deinterpretar um mito da MPB no palco.

Garin será a protagonista de "Elis - O Musical", que estreia em novembro no Oi Casagrande, no Rio de Janeiro.

A atriz passou por uma bateria de testes em audições que analisaram 300 candidatas ao papel. Arrasou com sua interpretação para "Fascinação", conta Nelson Motta, coautor do roteiro ao lado de Patrícia Andrade. A direção será de Dennis Carvalho.

Daniel Marenco/Folhapress
Laila Garin, escolhida para viver Elis Regina em musical
Laila Garin, escolhida para viver Elis Regina em musical

A partir desta quinta-feira (22), a intérprete tem dois meses para cantar como Elis. Bem, não exatamente como Elis (1945-1982), e ninguém cobrará isso dela. Resta saber como reagirá às comparações.

RODA BAIANA

Baiana de 1,61 metro de altura (Elis tinha 1,54 metro), filha de uma brasileira com um francês, Garin formou-se em artes cênicas na Universidade Federal da Bahia e pertence à turma de formandos de Vladimir Brichta.

Uma de suas primeiras apresentações foi ao lado do também baiano Wagner Moura em "A Casa de Eros" (1996), na qual eles interpretavam um trecho de "A Ópera de Três Vinténs", de Brecht.

Cantora desde a adolescência, ela lançou-se por trajetória afeita a linguagens autorais. Estagiou no Théatre du Soleil, na França, passou pela companhia Piolim, de Luiz Carlos Vasconcelos, trabalhou com Cacá Carvalho e, mais recentemente, interpretou a única mulher no elenco de "Gonzagão - A Lenda", um sofisticado espetáculo sobre o Rei do Baião dirigido por João Falcão.

São investidas que, todas elas, colocam a voz em primeiro plano. Além do percurso no teatro, Garin cantou na Ipanema Lab, banda de MPB com levada jazzística. Tem, em resumo, experiência para o papel e pretende investir mais em um estilo pessoal do que na imitação.

"Por Elis ter sido tão íntegra e genuína, seria absolutamente difícil imitá-la por meio da forma. A única maneira de me aproximar dela será buscando minha própria essência", considera.

De qualquer forma, Garin demonstra interesse em entender particularidades do canto de Elis. "Ela tem uma maneira de cantar o samba muito pessoal, tem uma ginga diferente, brinca quebrando o ritmo de uma maneira muito sofisticada", analisa. "Fazer isso será um desafio".

ELIS PARA MENORES

A tarefa de interpretar Elis também passará pela reconstrução de uma personalidade temperamental. "Laila também é uma atriz de temperamento forte, e acho que vai dar trabalho. Mas é assim mesmo, ou não dava para fazer a Elis", diz Motta.

No entanto, o compositor e escritor indica que algumas questões serão suavizadas. Ficam os conflitos amorosos (com Cesar Camargo Mariano, por exemplo) e os atritos com colegas da classe artística. Oculta-se a relação com a bebida e as drogas.

Segundo Motta, a peça não menciona nem mesmo a causa da morte de Elis em 1982. Segundo laudo médico, a cantora morreu por complicações decorrentes da ingestão de drogas e de álcool. (GUSTAVO FIORATTI)


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