Folha de S. Paulo


Mercado aposta na fotografia modernista; feira SP-Arte/Foto abre nesta quarta

Nos dias de hoje, em que a fotografia deixa cada vez mais de documentar o real e vira plataforma de novas ficções com imagens construídas e manipuladas, o mercado de arte quer trazer de volta os pioneiros de outra mudança de paradigma no olhar fotográfico --os modernistas.

Nomes hoje clássicos como Geraldo de Barros, Thomaz Farkas, Gaspar Gasparian, German Lorca e José Yalenti, que deram pegada geométrica às formas e reinventaram a estética fotográfica no Brasil, estão todos na feira SP-Arte/Foto, que abre nesta quarta-feira (21) no shopping JK Iguatemi.

Iatã Cannabrava, que criou uma mostra da obra de Yalenti e dos também modernistas Paulo Pires e Ademar Montanari na feira, vê o gosto pelo moderno ressurgir como reação à "exaustão" provocada por excessos da era atual.

Divulgação
Fotografia de Geraldo de Barros da série 'Fotoformas', de 1978
Fotografia de Geraldo de Barros da série 'Fotoformas', de 1978

"No meio do caos que a gente vive, o modernismo é o movimento mais uníssono da fotografia brasileira", diz Cannabrava, em entrevista à Folha. "Essas fotos causam o mesmo prazer que cruzar com o palácio Gustavo Capanema naquele pedaço caótico no centro do Rio. De repente, há uma harmonia visual que faz a gente parar ali."

Da mesma forma que os ângulos retos do prédio desenhado por Le Corbusier são motivo de alívio, o mercado busca uma potência renovada nessa safra de fotógrafos.

"É mesmo um resgate dessa geração", diz Fernanda Feitosa, diretora da SP-Arte/Foto. "Esse é um movimento conjunto das galerias, despertado pelo interesse recente dos museus estrangeiros."

Geraldo de Barros, por exemplo, teve obras compradas pela Tate, de Londres, e é tema de mostra agora em cartaz no Sesc Vila Mariana.

Outros nomes da mesma geração, que despontou nos anos 1960, ou mesmo mais velhos, que ganharam força com o Foto Cine Clube Bandeirante nos anos 1940, são reabilitados pelo mercado em contraponto à ascensão de fotógrafos mais jovens, com preços em alta acelerada.

Enquanto fotografias de Barros, Farkas e Gasparian saem por entre R$ 15 mil e R$ 40 mil na Luciana Brito, obras do contemporâneo Vik Muniz chegam a custar R$ 110 mil na galeria Nara Roesler.

Num patamar intermediário, estão obras de outro movimento que virou febre --as paisagens gigantescas e ultradescritivas de artistas como a alemã Candida Höfer e o italiano Massimo Vitali.

Longe da geometria, recriam o mundo com perfeição plástica artificial, de pontos belos, estáticos e nada caóticos como a realidade.

SP-ARTE/FOTO
QUANDO abre quarta (21), das 15h às 22h (convidados); de quinta (22) a dom., das 14h às 20h
ONDE JK Iguatemi (av. Juscelino Kubitschek, 2.041; tel. 0/xx/11/3094-2820)
QUANTO grátis


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