Folha de S. Paulo


Comédia com Marieta Severo aposta em humor politicamente incorreto

"Vendo ou Alugo" é uma comédia ambientada na fronteira entre o asfalto e a favela, com referências às UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora), ao consumo de drogas e à visão estereotipada dos turistas estrangeiros sobre a cidade do Rio.

No filme dirigido por Betse de Paula, com estreia marcada para a próxima sexta-feira (10), a atriz Marieta Severo interpreta Maria Alice, uma moradora da zona sul carioca que viu seu padrão de vida cair vertiginosamente ao longo dos anos.

Para equacionar suas dívidas, ela decide vender a residência da família, situada no acesso ao morro Chapéu Mangueira, no bairro do Leme. É um velho casarão, onde Maria Alice vive com sua mãe (Nathalia Timberg), a filha (Silvia Buarque) e a neta (Bia Morgana).

Divulgação
Marieta Severo em cena do filme
Marieta Severo em cena do filme "Vendo ou Alugo"

"Talvez este seja o filme mais politicamente incorreto feito nos últimos tempos no cinema brasileiro", disse Mariza Leão, produtora do longa metragem, que promoveu o lançamento de "Vendo ou Alugo" em entrevistas concedidas à imprensa na tarde desta segunda-feira (5).

Permeada por citações bem-humoradas associadas à polícia, ao jogo ilegal, ao tráfico de drogas e ao turismo nas favelas, a comédia recebeu doze prêmios no 17º Cine PE Festival Audiovisual, realizado em Recife no último mês de maio. Entre eles: melhor direção, melhor filme e melhor atriz (Marieta Severo).

"Foi muito bom ver uma comédia recebendo todos esse prêmios. Existe sempre um certo olhar associando a comédia apenas à bilheteria, mas é um gênero que pode abarcar muitas coisas, muitas qualidades", avaliou Marieta Severo. "O filme apresenta um olhar muito interessante sobre os cariocas, muito diferente, um olhar meio vesgo, que retrata tudo sem julgamentos morais", acrescentou a atriz.

Faz parte do elenco também o ator Marcos Palmeira, no papel de um motoboy que colabora com o tráfico de drogas em seu tempo livre. O personagem é um dos vizinhos que frequentam a casa de Maria Clara.

"A originalidade do filme é esse olhar livre, que vê as coisas de forma torta, que é um olhar em cima desta realidade social do Rio de Janeiro. É uma cidade onde casarões e barracos são encontrados em uma mesma rua. Há uma proximidade entre classes sociais", disse Marieta.

A protagonista Maria Clara decide vender a casa da família justamente durante a chegada da UPP à favela local.

"Acho que a gente está ali brincando na comédia, mas com uma visão crítica", ponderou Mariza, que justificou a citação aos processos batizados de "pacificação" das favelas. "A classe média carioca deixou de acreditar em 'Alice no País das Maravilhas' e passou a enteder que a UPP é um processo ainda não resolvido. Você não pacifica uma comunidade quando ainda existe esgoto a céu aberto", disse a produtora.

O filme "Vendo ou Alugo" custou R$ 3,5 milhões e será exibido em 150 salas de cinema a partir do próximo fim de semana.


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