Folha de S. Paulo


Japonesa faz arte de sua mania por bolas; exposição chega ao Brasil em outubro

Sobre a mesa com cartazes de mostras de Yayoi Kusama, um convite de 1968 se destaca. Nele, Kusama se diz "a moderna Alice" e chama a tomar chá no Central Park, junto à estátua da personagem de Lewis Carroll, "a avó dos hippies", que, "quando estava triste, foi a primeira a tomar pílulas para ficar para cima". "Estrelando: Eu, Kusama, louca enraivecida, e minha trupe de dançarinos nus".

A convocação para uma das várias performances que a artista japonesa realizou em Nova York nos anos 1960 está entre as mais de cem peças que integram Obsessão Infinita, em cartaz até 16/9 no Malba (Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires). Em um mês, a primeira grande retrospectiva de Kusama na América Latina contabilizou 70 mil visitantes.

Sentimento de perda de identidade atrai público a obra de Kusama

No dia 12 de outubro, a exposição chega ao Brasil, na sede carioca do Centro Cultural Banco do Brasil. Em fevereiro de 2014, segue para o CCBB de Brasília e, em maio, para o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.

Segundo um dos curadores da mostra, o canadense Philip Larratt-Smith, Kusama não era conhecida do público em geral na Argentina. "Sabia que seria popular, mas não a esse ponto. Por ser uma artista pop, é acessível a todas as idades, e o caráter lúdico faz a exposição ser divertida para todos", diz à Folha.

BOLINHAS NO ROSTO

Na entrada, o museu oferece uma cartela com adesivos de bolas coloridas. Logo os visitantes cobrem o rosto com os pontinhos coloridos --que servem, como se descobre ao final, para decorar o espaço em branco da instalação "Sala da Obliteração".

O nome da exposição remete à vida e à carreira de Kusama, que sofre de transtorno obsessivo compulsivo e escolheu viver em uma clínica psiquiátrica em Tóquio.

Na obra, a obsessão se manifesta na repetição de elementos, caso das bolas, em telas, vídeos, instalações e fotos, e das esculturas fálicas.

A retrospectiva também apresenta uma fase menos conhecida de Kusama, com pinturas de estilo clássico japonês, o "nihonga". Também estão lá os quadros monocromáticos da série "Redes Infinitas", que lhe dariam reconhecimento internacional.

Mas são as instalações que causam as maiores comoções --e filas. Em "Cheia do Brilho da Vida", lâmpadas se apagam e se acendem com cores diferentes num corredor escuro. Em "Campo de Falos", um jardim de esculturas com bolas vermelhas e brancas floresce num quarto espelhado.

Aos 83, Kusama segue produzindo, como atestam, ao fim do percurso, 36 telas pintadas entre 2012 e 2013. E quer mais. Em entrevista ao curador Larratt-Smith, diz que o que mais teme são "os críticos de arte e a imprensa mundial, que vêm me visitar e isso me priva do tempo para criar".


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