Folha de S. Paulo


Morre o jornalista Luiz Paulo Horta, membro da Academia Brasileira de Letras

Morreu na madrugada deste sábado (3) o jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) Luiz Paulo Horta, 69, após sofrer um infarto fulminante em casa, no bairro de Botafogo, zona sul do Rio. A informação foi confirmada à Folha pela assessoria de imprensa da ABL.

Horta era escritor, teólogo e crítico de música clássica do jornal "O Globo". Ocupava a cadeira 23, a mesma de Machado de Assis, desde agosto de 2008, sucedendo a Zélia Gattai.

A morte súbita do acadêmico pegou de surpresa seu colegas de ABL. "Recebi um e-mail dele ontem, ele estava muito feliz porque estava programando para o dia 14 de agosto sua festa de 70 anos, que seria celebrada com uma missa na PUC", disse o imortal Antonio Carlos Secchin. "Ele era duplamente novo, em termos de idade, em relação à média da Academia, e por estar há pouco tempo lá. Era muito querido por todos."

TV Brasil/Creative Commons
O jornalista Luiz Paulo Horta
O jornalista Luiz Paulo Horta

"Quando um acadêmico ilustre me confirmou, eu não acreditei. Foi uma grande tristeza, uma grande perda", disse a escritora Nélida Piñon. "Era um companheiro formidável, um homem generoso e muito culto. Era um grande crítico musical, Villa-Lobos era sua grande paixão. Era também um teólogo que dominava o sentido transcendente e vital das religiões, discorria sobre literatura em vários aspectos. Era um coração amável, uma grande perda para a academia e para a cultura brasileira."

Carioca, Horta foi o primeiro crítico de música a fazer parte da ABL, ineditismo que ressaltou em seu discurso de posse, no qual disse que sua eleição satisfazia um desejo de Manuel Bandeira --este afirmara, em crônica de 1969, que "estava na hora de termos, na Academia, um representante da música".

"Que eu tenha sido o primeiro a ser chamado para representar a música na vossa egrégia assembleia é fato que me enche de alegria e de um sentimento de responsabilidade quase esmagador", disse Horta na ocasião.

No mesmo discurso, citou "outra paixão da minha vida", o jornalismo, no qual se iniciou em 1963, no jornal "Correio da Manhã", após abandonar a faculdade de direito na PUC-RJ. Trabalhou ainda no "Jornal do Brasil" entre 1964 e 1990, a partir de quando se transferiu para "O Globo".

"Acho que conheci todos os aspectos da profissão, e aprendi a amar esse trabalho tantas vezes áspero, onde pode haver deslizes, claro, mas onde somos chamados permanentemente a um exercício de objetividade. Os filósofos discutem sobre o que é a verdade. No jornalismo, temos de decidir sobre isso todos os dias, se queremos prestar um bom serviço."

O jornalista também dirigiu, em 2000 e 2001, um grupo de estudos bíblicos no Centro Loyola da PUC-RJ, além de ter sido membro da Comissão Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Em 2010, recebeu a Medalha do Inconfidente do Governo de Minas Gerais.

"Além de especialista em teologia, ele era um dos maiores conhecedores de música erudita do país, sempre com uma visão crítica e generosa", disse Secchin. "Mas a cultura dele não se restringia à música clássica. Nas reuniões da academia, demonstrava muito conhecimento sobre filosofia, literatura, sociologia, sempre participava com muita presença."

O velório do jornalista está marcado para as 15h deste sábado na ABL. O enterro será entre 10h e 11h de domingo (4) no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio.


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