Folha de S. Paulo


Animação francesa 'Zarafa' trata público como gente grande

A animação francesa "Zarafa", que estreou na terça-feira (30) no Brasil, não trata seu público como crianças. Pelo menos essa é a intenção de seus diretores, Rémi Bezançon e Jean-Christophe Lie, ao expor uma Paris suja, cinza e chuvosa e usar os próprios franceses como vilões.

"Eu gostei da história, porque ela fala com o público infantil da mesma forma como falaria com adultos", diz Lie. "A vida pode ser doce, mas também dura", afirma.

"A França participou ativamente do comércio de escravos da África, então pensei que seria normal denunciar estes momentos mais sombrios de nossa história", diz Bezançon, responsável também pelo roteiro. "Queríamos mostrar Paris em sua verdadeira luz."

Divulgação
Cena do filme de animação 'Zarafa', inspirado em Verne
Cena do filme de animação 'Zarafa', inspirado em Verne

O filme conta, com algumas alterações, a história verídica da primeira girafa --batizada de Zarafa-- levada à França, do Sudão, em 1827, como um presente ao rei Carlos 10º.

As mudanças foram alvo de críticas na época do lançamento do filme na França, no começo de 2012. As acusações eram de que o roteiro omitia o tratamento sofrido pela girafa durante a viagem --o Museu de História Natural do país chegou a abrir uma exposição temporária chamada "A Verdadeira História de Zarafa".

Bezançon justifica as mudanças ao afirmar que o enredo ficaria repetitivo se contasse tudo como de realmente aconteceu.

"Zarafa permaneceu 45 dias em quarentena em Marselha", ele diz. "Com meu co-roteirista, Alexander Abela, reforcei a intriga para torná-lo mais épica."

O roteiro começou a ser escrito em 2001, quando o diretor ouviu a história pela primeira vez. Mas ele só voltou ao projeto em 2008, após adquirir confiança ao dirigir seus três primeiros filmes com atores. "Zarafa", sua quarta produção, é sua estreia em animações.

A parceria entre Bezançon e Lie foi uma ideia da produtora Valerie Schermann. "Ela tinha em mente o desejo de combinar dois diretores de mundos diferentes: um tradicional e um de animação", diz Bezançon.

Lie, que já tinha experiência com filmes da Disney, como "Tarzan", conta que ficou encarregado dos desenhos e que Bezançon cuidou dos atores, mas que ambos trabalharam juntos no storyboard.

"Tínhamos o mesmo filme na cabeça, apesar de sermos de universos muito diferentes.", diz Bezançon.


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