Folha de S. Paulo


Fãs e amigos se despedem de Dominguinhos com música no Recife

Os amigos de Dominguinhos se despediram do compositor e sanfoneiro com música nesta quinta-feira (25), durante o velório na Assembleia Legislativa de Pernambuco.

Ao som de sanfonas e palmas, artistas entoaram os clássicos do pernambucano que morreu de câncer na última terça-feira (23).

O velório foi aberto ao público às 8h, mas desde 4h40, fãs faziam fila na calçada em frente ao prédio, no centro do Recife.

Daniel Carvalho/Folhapress
Prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), cumprimenta ex-mulher de Dominguinhos durante velório na cidade
Prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), cumprimenta ex-mulher de Dominguinhos durante velório na cidade

Alcimar Monteiro, Cristina Amaral, Israel Filho, Waldonys e Cezzinha tocaram e cantaram, enquanto os fãs acompanhavam com palmas.

"A sanfona se cala. Ficou uma lacuna que acho muito difícil alguém preencher. A gente fica feliz por ele ter existido", disse a cantora Cristina Amaral.

O forrozeiro Cezzinha disse que foi pupilo de Dominguinhos e até hoje guarda os conselhos que recebeu do mestre. "Vou ficar hoje com um débito bem maior", afirmou.

O professor e comerciante Luiz Ceará, 65, emocionou-se ao lembrar das histórias do amigo que conheceu há 15 anos.

Dono de um restaurante no Recife, Ceará disse que costumava receber Dominguinhos para comer "bacalhau insosso" --por causa da saúde--, além de galinha capoeira e xerém, que comia escondido.

"Quando terminava, ele dizia: 'Agora vou pagar meu almoço'. Pegava a sanfona e pagava almoço para a vida toda", disse Ceará.

O comerciante lembrou também da vida solitária que o amigo levava em São Paulo e do momento em que descobriu que tinha câncer no pulmão. "Ele ligou para mim e disse 'Vê em que enrascada eu estou'. E não disse mais nada. Foi só choro", afirmou.

O amigo veio para o velório com um chapéu de couro que ganhou do sanfoneiro. No interior há uma dedicatória: "Ao meu querido amigo e irmão Luiz Ceará, um abraço".

ENTERRO

O corpo será enterrado no início da noite de hoje no cemitério Morada da Paz, em Paulista, na região metropolitana do Recife.

Segundo amigos da família, o corpo será levado da Assembleia Legislativa por um carro dos bombeiros, às 16h30. No cemitério, o enterro será iluminado por refletores.

À noite, haverá um tributo ao sanfoneiro numa casa de shows de Olinda. A renda do espetáculo será entregue à família para cobrir custos com o hospital e enterro.

FÃS

O autônomo Cleiton Braz, 41, foi o primeiro a chegar e se emocionou ao falar do ídolo. "Estava muito ansioso. Sou fã dele desde criança", disse Braz, antes de cantar alguns versos de "Copo d'água".

Quem começasse a entoar algum sucesso de Dominguinhos era logo seguido pelas cerca de 50 pessoas que estavam na fila antes do início do velório.

"Meu coração acabou-se", lamentava o sertanejo Manoel Francisco dos Santos, 73, que também chegou cedo e veio a caráter, com chapéu de couro.

Os motoristas que passavam em frente à Assembleia buzinavam e gritavam "viva Dominguinhos!".

"Isso não é pelo artista, é pela pessoa. Ele está colhendo o que plantou. Isso só me lembra o respeito e a humildade que ele tinha", afirmou Mauro Moares, 53, filho do primeiro casamento de Dominguinhos.

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O sanfoneiro Saviano do Acordeon, irmão da ex-mulher de Dominguinhos, tocava sanfona ao lado do caixão enquanto o público entrava na Assembleia Legislativa sob o olhar de soldados da Polícia Militar vestidos em traje de gala.

"Eu estava com ele ali todos os dias, até desligarem as máquinas. Dizia 'obrigada, obrigada, obrigada por tudo'. Ele tinha dificuldade de abrir os olhos, mas abriu e olhou nos meus olhos profundamente com afeto, amor. Não fiquei triste porque nos quatro últimos dias não dava mais. Acho que ele até escolheu [a hora de morrer]", afirmou Guadalupe, com quem Dominguinhos foi casado durante 37 anos.

O forrozeiro Alcimar Monteiro emocionou-se ao lembrar do amigo e ídolo. "É uma perda irreparável. Ele era um misto de bom gosto, talento, nordestinidade e brasilidade. Um artista como Dominguinhos não terá substituto. A música está um pouco mais pobre", afirmou o cantor, que elegeu "De volta para o aconchego" como sua canção favorita.

O prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), lamentou a morte de Dominguinhos e disse que o sanfoneiro é um exemplo para todos os artistas do país.


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