Folha de S. Paulo


Análise: 'House of Cards' transforma política em entretenimento viciante

O zum-zum que a internet proporciona e a sacada de lançar todos os episódios ao mesmo tempo explicam parte do sucesso de "House of Cards". Mas a obra do site de filmes e séries por assinatura Netflix, que se tornou ontem a primeira produção para a web indicada na categoria principal do Emmy, deve muito a Shakespeare e a um de seus maiores guardiães atuais, o ator Kevin Spacey.

Seu Francis Underwood, o cínico deputado sulista cujo único princípio é o de autopreservação, é a melhor versão moderna de Ricardo 3º, o mesquinho anti-herói da peça homônima de Shakespeare, tão atual em dias de desilusão política globalizada.

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O papel lhe rendeu a indicação a melhor ator de série dramática. Levar esse prêmio, porém, será tão difícil quanto roubar a cena de sua companheira de tela, Robin Wright, genial como a mulher-de-deputado/ongueira-ambiciosa Claire (também indicada).

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Cena da série da Netflix 'House of Cards'
Cena da série da Netflix 'House of Cards'

"House of Cards" é um drama político dos melhores, capaz de transformar a intrincada política americana, com suas particularidades de funcionamento, em um programa de entretenimento viciante e de apelo universal.

Fora de um grande canal da TV, o drama pode se desprender do irritante maniqueísmo que norteia a ficção televisiva americana. Não há mocinhos ali, são todos vilões, em maior ou menor grau, tentando se dar bem. A empatia com Francis ocorre quase por coação, por meio de seus insistentes (e teatrais) diálogos com a câmera, a fim de inteirar o espectador de seus planos.

A Netflix --cujas ações foram salvas do naufrágio, no ano passado, por causa de "House of Cards"-- já encomendou a segunda temporada, também nas mãos de Spacey e do diretor David Fincher (de "Clube da Luta"), que disputará o Emmy por seu trabalho no primeiro episódio.

Mas não anunciou datas. A expectativa e o desapego a calendários, afinal, são parte da natureza da internet.


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