Folha de S. Paulo


'O direito de proibir cópias perdeu a importância', diz editor Richard Nash

Leia trechos da entrevista com Richard Nash, autor do ensaio "Qual o negócio da literatura", na "Serrote". (RC)

Escritores e editores viram produtores de obras coletivas em várias plataformas

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Folha - O sr. escreve que o mercado editorial é "um sistema que produz boa literatura apesar de si mesmo". Pode explicar essa ideia?
Richard Nash - Nós [editores] estamos tão propensos a ignorar a boa literatura como a encontrá-la. A verdade é que ninguém jamais foi consistentemente capaz de "descobrir" a grandeza, nem sequer a comercial, assim como quem aposta em corridas de cavalo não é tão bom no que faz. Isso em parte porque a grandeza não é só intrínseca à obra, é também contextual, tem a ver com o momento.

O sistema editorial será melhor quando se focar na produção de cultura, em oposição à descoberta de arte.

Arquivo pessoal
O editor independente americano Richard Nash, criador da rede social de referências literárias Small Demons
O editor independente americano Richard Nash, criador da rede social de referências literárias Small Demons

Acredita que direitos autorais se tornem algo ultrapassado?
Um estudo recente indicou que a indústria editorial na Alemanha do século 19 era mais robusta sem copyright do que a inglesa com copyright. Direitos autorais existem para facilitar aos editores, num mundo analógico, ter retorno sobre seu investimento e impedir concorrentes de copiar seu produto.

Em retrospecto, eles provavelmente não eram necessários na era analógica e certamente não são viáveis agora. A receita não virá de fazer cópias de coisas. Virá de serviços, palestras, produtos associados. São formas mais sofisticadas de gerar receita a partir de ideias e histórias.

E como ficaria o autor?
À medida que o direito de proibir cópias (o copyright) se torna menos importante, o de ser identificado como autor do trabalho ganha força.

O direito de marcas suplanta os direitos autorais como apoio legal para a economia da escrita. É o que pode me impedir de fingir ser Malcolm Gladwell e ganhar US$ 50 mil para falar a um grupo que tenha gostado do livro "Blink".

Se sua marca é forte, você pode licenciá-la sob termos restritivos a outros, como a Amazon fez agora com sua plafatorma de "fan fiction", com autores autorizando histórias baseadas nas suas.

E essa criação se torna parte de um grande fluxo remixável na sociedade. Queremos todos a camiseta do artilheiro. Isso ele controla, mas todos tentam copiar a forma como o gol foi marcado.

Agora, mesmo sem copyright, muitos preferem o vendedor autorizado. Nos EUA, a moda é manter a etiqueta da loja no boné de beisebol. Autores como E.L. James sempre surgirão, como memes. É um "Gagnam Style" [música pop sul-coreana que virou mania] do mundo literário, livros comprados simplesmente porque todos estão comprando.

SERROTE #14
AUTORES Vários
EDITORA Instituto Moreira Salles
QUANTO R$ 37,50 (240 págs.)
LANÇAMENTO Dom. (21), às 13h, na Loja de Arte da Livraria Cultura (Cj. Nacional, av. Paulista, 2.073)

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RAIO-X
RICHARD NASH

CARREIRA
Criador da independente Soft Skull, editor da Red Lemonade e vice-presidente do site Small Demons

PRÊMIOS
Em 2005, levou o Prêmio de Criatividade em Edição Independente da Associação de Editores Americanos. Em 2012, a revista "Utne Reader" o elegeu um dos 50 "visionários que mudam o mundo"


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