Folha de S. Paulo


Marcada por improvisos, Flip 2013 é uma das menos literárias de todas

A Festa Literária Internacional de Paraty que acabou na noite de ontem foi bastante diferente daquela que a organização tinha em mente duas semanas atrás.

Foi uma festa de improvisos, com três baixas de última hora entre os convidados, a inclusão de mesas extras sobre os protestos no país, tema que se impôs nas semanas anteriores ao evento, e a integração física dos manifestos aos debates, com gritos de grupos locais invadindo a Tenda dos Autores anteontem.

Se em outras edições a Flip já precisou correr para cobrir desistências com poucos dias de antecedência, desta vez ela precisou fazer isso inclusive no decorrer da festa.

A novela envolvendo a participação do palestino Tamim Al-Barghouti, "o poeta da Revolução Árabe", começou no dia de abertura, quarta, quando um golpe militar no Egito levou ao cancelamento de voos saindo daquele país.

Após enfim conseguir embarcar no Cairo, na manhã de sexta, Al-Barghouti perdeu o passaporte na escala em Londres. "Eu poderia ser perdoado se o obstáculo tivesse sido algo dramático, como um tanque na rua ou um tiroteio na rodovia, mas foi uma mente distraída", disse ele, pedindo desculpas, em carta à Flip.

Editoria de Arte/Folhapress
Flip Flop
Flip Flop

Mas as emendas deram bons resultados. Debates sobre protestos, escalados após a desistência do francês Michel Houellebecq, atraíram inclusive um público mais jovem, que participou ativamente com perguntas a T.J. Clark, Vladimir Safatle e André Lara Resende.

O mexicano Juan Pablo Villalobos, substituto do norueguês Karl Ove Knausgård, foi um dos melhores debatedores desta edição -confirmado um dia antes do evento, teve seu "Festa no Covil" entre os mais vendidos na livraria oficial da Flip, a Travessa.

E o tão temido bloqueio na ponte de acesso à Tenda dos Autores, no sábado, não incomodou turistas -que, ao menos temporariamente, atentaram para temas ambientais e sociais que preocupam o povo local.

Nenhuma mesa causou mais comoção nesta edição que a de Maria Bethânia e Cleonice Berardinelli recitando poemas de Fernando Pessoa. Bethânia deu à amiga espaço para brilhar, e dona Cleo, 96, levou o público pela mão. Poucas vezes na Flip se ouviram aplausos tão duradouros na Tenda dos Autores.

Sessenta anos mais nova, a franco-iraniana Lila Azam Zanganeh arrebatou o auditório cantarolando o "fazcarigudum" do "Trem das Onze", de Adoniran Barbosa. Virou a musa da Flip e a autora best-seller desta edição, com 500 cópias de seu "O Encantador" vendidas em Paraty. Cleonice foi a segunda mais vendida.

Mas, no geral, a ausência de grandes estrelas literárias, somada a mesas sobre ficção que pouco repercutiram, como a de John Banville e Lydia Davis, fez desta uma das Flips menos literárias de todos os tempos. Isso deu espaço para nomes de outras áreas, como o arquiteto Eduardo Souto de Moura e o cineasta Eduardo Coutinho, protagonizarem alguns dos debates mais interessantes.

A Flip do improviso se fez notar até na mesa final, em que autores leem trechos de seus livros favoritos: a tradutora não recebeu antes o texto escolhido por Laurent Binet, e fez uma tradução livre do russo Vasily Grossman.

Na entrevista de balanço, foi anunciado que a 12ª edição da festa, no ano que vem, acontecerá em agosto, para não coincidir com a Copa do Mundo.

(MARCO AURÉLIO CANÔNICO, MARCO RODRIGO ALMEIDA, RAQUEL COZER, RODRIGO LEVINO)

Editoria de Arte/Folhapress
UMA FESTA EM FRASES
UMA FESTA EM FRASES

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