Folha de S. Paulo


Na era dos livros digitais, leitor comum será principal jurado dos prêmios literários

A era do laptop, do iPad e do Kindle trouxe, entre muitas mudanças, um fenômeno que pode ser descrito como a era de ouro do leitor. Estamos consumindo mais publicações, em mais formatos. E esse apetite por obras está tendo impacto não só nos festivais literários. A pessoa antes conhecida como "o leitor comum", agora emancipada pela internet, começa a pedir acesso ao fechado mundo dos entendidos em literatura.

A Associação dos Escritores e Tradutores da Ásia-Pacífico lançou um novo prêmio literário no qual os leitores serão os mais ouvidos.

"Todo mundo está cansado de prêmios em que professores de literatura escolhem livros que só são ótimas leituras para eles mesmos. Mas e os livros para o resto das pessoas?", disse Nury Vittachi, diretor da associação.

A ideia do World Reader's Award (prêmio mundial dos leitores) surgiu em um encontro de escritores e tradutores realizado em outubro passado em Bangkok, com participantes de todo o mundo. Eles manifestaram seu desânimo em relação às escolhas previsíveis dos jurados dos prêmios literários.

Vittachi e seus colegas decidiram então lançar uma premiação que subvertesse a ordem desses concursos.

"É provável que os próximos Ian Fleming [autor dos livros de James Bond) ou JRR Tolkien [do 'Senhor dos Anéis"] sejam mulheres da Ásia. Esse prêmio lhes dará a chance", afirmou Jane Camens, diretora-executiva da associação.

O Prêmio Mundial dos Leitores terá novos critérios de participação. Enquanto é preciso cidadania americana para concorrer ao Pulitzer, ou um passaporte britânico ou da União Europeia para se candidatar ao Man Booker, a nacionalidade não será levada em conta no novo prêmio. A ideia é encorajar escritores fora do círculo da literatura anglo-americana.

Mas isso pode ser a receita para o pior tipo de populismo literário. Envolver o leitor comum não é garantia de que as escolhas serão melhores. Mas uma coisa é certa: Vittachi e seus colegas chamaram a atenção do mundo dos prêmios literários. Na era de outro do leitor, Pulitzer, Booker e companhia terão de reconhecer que as fronteiras da literatura não podem mais ser definidas da forma tradicional.

É significativo que o prêmio Folio, criado recentemente por um grupo internacional com sede na Inglaterra, tenha anunciado que os leitores comuns podem fazer suas indicações para a premiação. Isso pode ser chamado a democratização do livro. É parte de uma nova fronteira na criatividade que está sendo aberta por meio da revolução digital no mundo editorial.


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