Folha de S. Paulo


Pai da música disco, o italiano Giorgio Moroder, 73, inicia nova fase como DJ

"Hello, this is Giorgio", responde a voz com forte sotaque italiano por telefone à Folha, de Los Angeles nos EUA.

Como diz em "Giorgio by Moroder", do disco "Random Access Memories", lançado neste ano pelo duo francês Daft Punk, ele se chama Giovanni Giorgio [Moroder], mas todos o chamam de Giorgio.

Christelle de Castro/Divulgação
Giorgio Moroder (à esq.) e Chris Cox se apresentam em Nova York, no mês de maio
Giorgio Moroder (à esq.) e Chris Cox se apresentam em Nova York, no mês de maio

Músico, produtor, compositor premiado com Oscar, Globo de Ouro e Grammy por suas trilhas sonoras --como as de "Expresso da Meia-Noite", de 1979, e "Flashdance", de 1983--, Moroder viu seu nome voltar à tona neste ano como se fossem os anos 1970, quando se consagrou como o pai da música disco.

Aos 73 anos, resgatado pelo Daft Punk numa faixa-tributo de quase 10 minutos em que discorre sobre a própria trajetória, o produtor se entusiasma ao falar da nova fase da carreira, como DJ.

"Estou começando a tocar mais. Tenho mais uma data no Japão na próxima semana e outras marcadas na Holanda", contou ele, que voltava de uma série de apresentações no país oriental.

A estreia nas picapes aconteceu numa grande festa em Nova York em maio passado. O set de 90 minutos logo caiu na web para download (além de vídeos), renovando o
culto em torno dele.

"Na verdade, não bem foi a primeira vez. Eu toquei em festas menores de Elton John e para a Louis Vouiton. Mas, oficialmente, essa foi estreia."

Debute com uma mãozinha: "O rapaz que me ajuda com o laptop [o DJ e produtor Chris Cox] toca muito no Rio. Adoraria tocar no Brasil."

Caso venha, o público ouvirá uma seleção de hits de diversas épocas produzidos por Moroder e interpretados por artistas como Blondie e David Bowie.

As músicas são mixadas por Cox e ganham solos de teclado e mensagens cantados pelo italiano com uso do vocoder, um sintetizador de voz.

Estão lá também canções como "Love to Love You Baby" e "I Feel Love", parcerias de Moroder com Donna Summer (1948-2012), descoberta por ele e a quem se refere como "minha musa".
Os hinos de pista de dança criados em parceria com Summer são de longe os mais conhecidos do legado de Giorgio Moroder, mas a sua obra pop vai além.

Entre os anos 1970 e 1980, ele trabalhou com Debbie Harry, do Blondie, David Bowie e Philip Oakey, do Human League. No cinema, uma de suas marcas é o funk sintético "Chase", da trilha de "O Expresso da Meia-Noite", que lhe rendeu um Oscar em 1979.

Versátil, Moroder também compôs temas muito dramáticos, como os de "Scarface" (1983), de Brian de Palma. "Inspirado em Al Pacino e seus amigos", contou.

Entusiasta dos sintetizadores, ele é generoso ao compartilhar a descoberta dessas peças fundamentais para a música pop e eletrônica.

"O [grupo alemão] Kraftwerk é que foi realmente o primeiro a usá-los de forma inovadora, menos como experimentação e mais como instrumento."

Tantos anos manuseando tecnologias a serviço da música e das pistas, no entanto, não o afastaram de um modo, digamos, analógico de ver o pop. "A música hoje precisa de algo novo e esse novo é a humanização".

"É exatamente o que está fazendo o Daft Punk", disse sobre a dupla de música eletrônica que deu uma guinada em direção ao passado e oportunamente o resgatou.

DISCOTECA BÁSICA

Três colaborações de sucesso

"Love to Love You Bay" -- Donna Summer (1975)
"Call Me" -- Blondie (1980)
"Cat People (Putting Out the Fire") -- David Bowie (1982)

Três discos do produtor

From Here to Eternity (1977)
Munich Machine (1977)
E=MC2 (1979)


Endereço da página: