Folha de S. Paulo


'Componho como repentista, é só ligar um gravadorzinho', disse Dominguinhos à Folha

O cantor, compositor e sanfoneiro Dominguinhos morreu hoje, às 18h, em decorrência de complicações infecciosas e cardíacas, aos 72 anos, em São Paulo. O músico estava internado desde 13 de janeiro no Hospital Sírio Libanês, após ser transferido do Recife.

Considerado um dos principais sanfoneiros do país, Dominguinhos dizia compor como "um repentista". Segundo ele revelou à Folha, em entrevista que concedeu ao repórter Plínio Fraga, em novembro de 2010, bastava ter um graador por perto e a música estaria pronta.

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Na ocasião, Dominguinhos comemorava 70 anos com um disco inédito.

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Leia trechos da entrevista concedida por Dominguinhos à Folha

O pernambucano José Domingos de Moraes, o Dominguinhos, prestes a completar 70 anos, entoa forte os versos de "Quem me Levará Sou Eu": "Se o calendário acabar, eu faço contar o tempo outra vez, sim, tudo outra vez a passar...".

Tendo retirado um pulmão, com problemas no que restou, é comum vê-lo carregar uma sacola de remédios.

Mas encontra forças para cantar, como fez dez dias atrás no 2º Festival Internacional da Sanfona, em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA).

Às margens do rio São Francisco, a Folha conversou com Dominguinhos e com o curador do festival, Targino Gondim, 37.

Folha - Aos 70 anos, o sr. vai começar a contar o tempo outra vez?
Dominguinhos - É engraçado, ouvi meu pai com 70 anos dizer que o Brasil era o país do futuro. Ouvi o mesmo de Tinoco [da dupla com Tonico]. Agora é a minha vez de chegar à mesma idade e dizer o mesmo.

O que prepara para a comemoração em fevereiro?
Tenho um disco com 20 músicas novas gravadas em Fortaleza e um que não foi lançado, gravado ao vivo em São Paulo.

Targino Gondim - Dominguinhos, uma coisa que deixa a maioria dos músicos curiosa é que, pelo que se sabe, você não lê partitura. Mas dá show em qualquer um na gravação. Como chega nisso?
É verdade. Pelo instrumento estar aliado a mim há anos, desenvolvi uma forma de tocar minha, como Sivuca fazia. Dedilhado diferente, ajustando as coisas. Sivuca teve muita força de vontade, aprendeu a ler, fazer arranjo. Eu não pude. Fui pai muito cedo, aos 17... Tive que me virar. Tocava com Gonzaga, tocava nas boates de dança e fui pegando os estilos de música. Isso ajudou a pegar um jeito especial de tocar, ouvindo todo mundo.

Mas como o sr. compõe?
Faço como repentista. É só ligar um gravadorzinho e depois reproduzir as melodias...

O Nordeste apoia Lula, seu conterrâneo de Garanhuns, mas o sr. está desgarrado dessa turma.
O papel dele é este: o novo coronel do voto de cabresto. Tudo aconteceu nesse sentindo. A gente vê menina nova tendo filho para ter dinheiro. Não gosto disso. O nordestino é muito trabalhador se não tiver moleza. Se achar uma moleza, não trabalha mais. Hoje em dia nem roupa usa. A moçada bota um short, uma camiseta, fica de sandália. Só quer aquela mixaria ali para sobreviver.

O jornalista PLÍNIO FRAGA viajou a convite da organização do festival


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