Folha de S. Paulo


Criador da polêmica estátua de Borba Gato ganha exposição em São Paulo; veja fotos

Paulista. Bandeirante. Desbravador de sertões. Aventureiro. Encontrou ouro e esmeraldas. Participou da Guerra dos Emboabas. Genro de Fernão Dias. Cunhado de Garcia Paes. Ele é Manuel Borba Gato.

A vida do bandeirante talvez desse uma boa apresentação dessas que associam fotos de uma pessoa a adjetivos, tão comuns hoje em dia nos sites de humor e nas redes sociais.

Isto é, se não tivesse passado tanto tempo de seu nascimento e morte (1649-1718) e se a própria figura dos bandeirantes paulistas na história brasileira não tivesse sido, digamos, repensada.

Ainda que os feitos desses pioneiros estejam ofuscados, seus nomes ainda batizam ruas, avenidas e rodovias. E a estátua de Borba Gato ainda paira soberana na avenida Santo Amaro, zona sul de São Paulo.

Difícil passar por lá e não se impressionar com o monumento.

Alto. Esbelto. Colorido. Para alguns, talvez alto, esbelto e colorido demais. A obra, da autoria do escultor e pintor Júlio Guerra (1912-2001), foi inaugurada há 50 anos e nunca conseguiu uma opinião unânime.

"[Júlio] queria fazer coisas para o povo e é contestado justamente por causa disso. Sempre foi uma pessoa original, autêntica, nunca dependeu de tendências da moda da Europa ou do Brasil", explica o professor Eiji Yajima, curador da mostra "Júlio Guerra - Memória, Escultura e Pintura".

Aberta na última terça-feira (25), no Museu Belas Artes de São Paulo, a exposição reúne pinturas a óleo e miniaturas de esculturas do artista.

Segundo o professor Yajima, o monumental Borba Gato da zona sul --13 metros de altura, contando o pedestal, e 20 toneladas de peso-- consumiu seis anos de trabalho de Júlio Guerra e de quatro ajudantes.

A obra foi resultado de um concurso público para homenagear o quarto centenário de Santo Amaro, então um município autônomo em relação a São Paulo.

"Demorou porque o Júlio queria fazer uma coisa diferente. Não queria pegar cânones da Europa, usar bronze. Ele achava que coisa pública não podia ser [feita da mesma] coisa [de que são feitas as obras] de cemitério", afirma o professor.

Por isso, bronze foi substituído por barro, gesso, concreto e pastilhas coloridas. "Pastilhas não, pedras quebradas uma a uma pelo artista, no quintal de sua casa", ele diz sobre o revestimento da obra, que remete às estatuetas de barro típicas do Nordeste, região de origem de parte da população do então município.

A cor também invade as pinturas a óleo expostas agora em São Paulo, todas elas do acervo da família do artista. Elas retratam cenas do cotidiano de Santo Amaro: procissões religiosas, casamentos, cortejos fúnebres, passeios pelo largo Treze de Maio.

"Suas pinturas tinham a característica de serem escultóricas. Ele tinha um grande domínio de cor e de composição", explica o curador, referindo-se à formação técnica do artista, adquirida em bacharelados de escultura e pintura na própria Belas Artes, que agora recebe a exposição do ex-aluno célebre.

"FALEM MAL DE MIM"

"Querido por uns, considerado de mau gosto por outros, o velho Borba Gato, alheio às críticas, tornou-se um reconhecido cartão-postal da cidade, imediatamente associado ao bairro de Santo Amaro", escreve o site da Prefeitura de São Paulo a respeito do polêmico monumento.

O curador sai em defesa do artista. "Júlio pouco ligava. Ele fazia para o povo. Ele dizia: 'Fale mal de mim; mas o importante é que estou sempre na mídia'. Fazia o que queria."

Ou, como escreve o próprio artista em uma das pinturas da exposição: "Arte não tem aferidor de valor. A gente faz arte para gente igual à gente". Apenas.

JÚLIO GUERRA - MEMÓRIAS, ESCULTURA E PINTURA
QUANDO: seg. a sex., das 10h às 20h; sáb., das 10h às 16h (até 3/8)
ONDE: Museu Belas Artes de São Paulo (muBA) (r. Álvaro Alvim, 76; tel. 0/xx/11/5576-7300)
QUANTO: grátis
CLASSIFICAÇÃO: livre


Endereço da página:

Links no texto: