Folha de S. Paulo


Morre aos 88 o gravurista Marcello Grassmann

Morreu na madrugada desta sexta (21) o artista plástico Marcello Grassmann. Ele tinha 88 anos e sofreu falência múltipla dos órgãos depois de ser internado com pneumonia há dez dias no hospital Samaritano, em São Paulo.

Grassmann será cremado em cerimônia na tarde deste sábado (22) no cemitério da Vila Alpina, na zona leste da cidade.

Nascido em São Simão, no interior paulista, Grassmann se radicou em São Paulo e estudou fundição, mecânica e entalhe na Escola Profissional Masculina do Brás, entre 1939 e 1942. Foi ilustrador do "Suplemento Literário" do jornal "Diário de São Paulo" no final dos anos 1940 e atuou também em "O Estado de S. Paulo".

Grassmann se firmou na cena artística do país como gravurista virtuoso, tendo estudado com mestres do gênero, como Henrique Oswald e Poty, no Rio. Em 1953, o artista venceu o prêmio de viagem do Salão Nacional de Arte Moderna e foi estudar artes aplicadas em Viena. Sua obra parece girar em torno de personagens fantásticos, evocando cenas medievais, ao mesmo tempo oníricas e sombrias.

"Ele tinha um imaginário muito próprio criado a partir desse repertório de obras e da literatura medieval, anjos e figuras monstruosas", diz Ivo Mesquita, diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo, que tem grande parte das obras de Grassmann em seu acervo. "Mas não diria que ele é um surrealista, eu diria que ele é mais um fantástico. Ele é uma das figuras mais importantes na área da gravura no Brasil, uma figura histórica."

"É uma perda enorme, foi um artista que realizou uma obra de grande densidade", diz, sobre Grassmann, o artista Sérgio Fingermann. "Ele sempre esteve atento às questões da vanguarda, mas ficou fiel ao ofício, a valores que ele prezava como fundamentais. Numa época de temporalidade frenética e devoradora, a obra dele funciona como uma reação à indiferença, é esse refúgio."

Renina Katz, uma das maiores gravuristas do país e da mesma geração de Grassmann, também lembra esse mundo paralelo criado pelo colega. "Não é uma questão de escola ou estilo. Ele criou uma população que tem certa simbologia", diz Katz. "Ele representa o que existe de mais importante na formação daquilo que no Brasil sempre foi muito desprestigiado, que foi a gravura. Era um desenhista e gravador excepcional."

Katz também lembra a resistência de Grassmann em aderir à moda. Mesmo trabalhando na imprensa e adaptando seus desenhos a assuntos do dia, Grassmann não "vacilou em transformar a obra dele em artigo do dia", nas palavras da artista. "Ele não fazia concessões, seguiu o projeto dele do começo até o fim. "

Claudia Guimarães/Folhapress
Artista plástico Marcelo Grassmann, em foto dos anos 1990
Artista plástico Marcelo Grassmann, em foto dos anos 1990

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