Folha de S. Paulo


Estudo da USP mostra que, na prática, benefício da meia-entrada não existe

Um novo estudo feito por um pesquisador da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) aponta que não há benefício real na meia-entrada, porque, como os beneficiários costumam ser numerosos (entre 70% e 80% do público pagante na maioria das vezes), o valor médio da entrada é inflado.

Segundo Carlos Martinelli, o pesquisador responsável pelo estudo "O impacto da meia-entrada na precificação de ingressos e no planejamento estratégico de companhias de entretenimento", o alto número de usuários do benefício provoca "desequilíbrio e inevitável falência de transferência de renda".

Atualmente, o Congresso estuda um projeto para limitar a disponibilidade da meia-entrada para cerca de 40% dos ingressos totais.

De acordo com o estudo, os consumidores da meia-entrada estão pagando pelo que seria o real valor do ingresso cheio, enquanto quem compra inteira paga quase o dobro do preço real.

No Brasil, idosos e estudantes têm direito ao benefício da meia-entrada por lei federal. Outros descontos, porém, são oferecidos em leis municipais e estaduais, e, em geral, contemplam menores, professores, deficientes físicos, doadores regulares de sangue, entre outros.

Com poucas exceções, essas leis não determinam uma porcentagem de ingressos de meia-entrada.

"Uma vez que nenhuma das leis pesquisadas impõe qualquer tipo de contrapartida financeira por parte dos governos que as estabelecem, a dedução lógica é a de que cabe ao promotor do evento a tarefa de precificar o ingresso de forma a viabilizar o benefício da meia-entrada por meio de transferência de renda pura e simples: entre quem não faz uso do benefício e quem o faz", diz Martinelli.

Os cálculos do pesquisador mostram que o valor da entrada inteira acaba por subsidiar a meia, uma vez que o preço do ingresso médio é determinado com base na expectativa de beneficiários da meia-entrada que devem comparecer ao evento.

"A ausência de contrapartidas dos governos e cotas limites inviabiliza o benefício do desconto efetivo que, para porcentagens altas de adesão de meia-entrada, praticamente inexiste. Quando existe, jamais chega a 50%. Portanto, não se paga meia em ingresso algum", conclui Martinelli.


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