Folha de S. Paulo


Guitarrista Pat Metheny traz a SP banda de feras, mas insiste nos robôs

Os fãs de Pat Metheny, que se assustaram ou até se decepcionaram ao ouvi-lo tocar com uma orquestra de instrumentos robotizados, no insólito álbum "The Orchestrion Project", já podem ficar mais tranquilos.

Na abertura do 3º BMW Jazz Festival, nesta quinta (7), em São Paulo, o guitarrista norte-americano demonstrou que não enlouqueceu: voltou a tocar com músicos de verdade.

São eles Chris Potter (saxofones e clarone), Antonio Sanchez (bateria) e Ben Williams (baixo acústico). Aliás, excelentes instrumentistas e conceituadas feras do jazz, que Metheny apresentou à plateia do HSBC Brasil, enfaticamente, como "três dos melhores músicos do planeta". Seria um disfarçado "mea culpa"?

Gabo Morales/Folhapress
O guitarrista americano Pat Metheny, destaque do BMW Jazz Festival
O guitarrista americano Pat Metheny, destaque do BMW Jazz Festival

Metheny abriu o show sozinho, na penumbra, extraindo da guitarra sintetizada timbres de cítara e harpa. Assim introduziu sua composição "Come and See", cujo arranjo destaca a rara e grave sonoridade do clarone de Chris Potter, que, pouco depois, também fez seu sax soprano soar quase como um oboé.

Para tocar a bela "New Year", Metheny trocou a guitarra pelo violão. Ao ouvi-la, quem se lembrou do lirismo e das sofisticadas harmonias do violonista e compositor mineiro Toninho Horta, um dos expoentes do Clube da Esquina, sabe que não se trata de mera coincidência --foi influência direta mesmo.

Relativamente generoso, entre um e outro de seus longos improvisos, o líder da Unity Band abre espaço para solos de Potter, um assertivo e sanguíneo improvisador, ou de Sanchez, músico capaz de desenvolver criativos solos de bateria, recheados de nuances rítmicas e dinâmicas.

Porém, depois de cerca de 1h15 de música, veio a surpresa: o palco se iluminou, revelando alguns dos instrumentos robotizados que Metheny utilizou em suas gravações com a orquestra mecânica. Felizmente, a "ego trip" do norte-americano durou menos agora: apenas uma música e, mesmo assim, com participação ativa de seus parceiros de carne e osso.

Não faltou também a previsível homenagem à música brasileira, por meio de "Insensatez" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), em uma releitura bem livre e jazzística, sem, no entanto, a leveza essencial da bossa nova.

Fica a dúvida: será que Metheny vai insistir e também levar seus gélidos robôs aos shows deste sábado, no clube Bourbon Street, ou domingo, no parque do Ibirapuera? Ou ele vai enfim perceber que lugar de robô é em filme de ficção científica?

PAT METHENY - BMW JAZZ FESTIVAL
Avaliação: bom


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