Folha de S. Paulo


'Mercado anunciante vai ditar o programa que fica', diz vice-presidente da Record

Em uma rara entrevista, o vice-presidente da Record e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) --que já apresentou o programa "Fala que Eu te Escuto"--, Honorilton Gonçalves, falou sobre os investimentos da IURD no canal e a revisão de gastos de programas onerosos como o de Gugu, que ocupa hoje o terceiro lugar em audiência na faixa.

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Folha - Quantos funcionários da Record serão demitidos e quais programas vão acabar?
Honorilton Gonçalves - Estamos ainda na fase de estudos, não temos como precisar quantos serão. Quanto aos programas, o mercado [anunciante] vai dizer quem vai continuar.

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A Record faturou em 2012 algo em torno de R$ 3,5 bilhões? O prejuízo anual da emissora é de R$ 200 milhões?
Essa é uma conta muito difícil de ser fazer. Posso garantir para você que a condição da Record é muito cômoda. Não temos nada atrasado, estamos em dia com todos os pagamentos. A emissora está tranquila e pretende continuar assim, por isso vem promovendo esses ajustes.

Há possibilidade de a Igreja Universal, que já loca cerca de cinco horas diárias no canal, vir a ocupar mais espaços?
A igreja é uma grande cliente da Record, mas não fomos procurados para que ela venha a aumentar sua participação em nossa grade.

A igreja paga R$ 500 milhões anuais para a Record por esses espaços?
Não sei. Além dos horários, a gente entrega também, ao longo da programação, ações comerciais importantes para Igreja Universal [anúncios no horário comercial], que entram em espaços estratégicos da programação.

Há uma conta de que o Gugu em casa, recebendo salário de R$ 3,5 milhões, daria menos prejuízo que fazendo programa, que gasta mais R$ 4 milhões mensais. É isso mesmo?
O Gugu está passando pela mesma análise que todos os produtos, para definirmos o que será feito com ele. Todos devem ser rentáveis.

Houve um momento em que a Record investiu na competição com a Globo. Foram gastos desnecessários, uma vez que hoje vocês brigam pelo segundo lugar com o SBT?
Continuamos no mercado. Se a Fifa quiser conversar hoje sobre a Copa de 2022 e a CBF abrir a venda do Brasileirão, eu vou lá. Não mudou nada. Só o mercado que retraiu muito. Entre 80% e 90% da nossa programação é produzida no Brasil.

Mas é complicado investir tanto e perder para "A Usurpadora", uma novela mexicana de 1998 exibida pelo SBT?
(risos) Mas quanto "A Usurpadora" fatura? Não temos nada contra os mexicanos, mas queremos criar emprego no Brasil. Temos um projeto de televisão que não começou ontem. Neste ano, vamos ter a nova "Fazenda", a novela nova do Carlos Lombardi, a nova versão de "O Aprendiz"... Tudo o que foi planejado está sendo realizado. Não abandonamos nada.

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Todos os dias, alguém do mercado de TV diz que você vai "cair" da Record. Você vai deixar mesmo a emissora?
Você vai colocar isso? (risos). Eu respeito muito os jornalistas, enfim, vocês estão atrás da notícia em primeira mão. Mas quando eu souber de algo nesse sentido, eu te aviso, tá? (risos)

A reestruturação da Record é orquestrada pela IURD, que cansou de colocar dinheiro na emissora e não ver lucros?
A igreja sempre foi muito agressiva na comunicação. Eles trabalham com gente, querem ajudar as pessoas. Nessa trajetória, sempre vimos esse investimento deles na comunicação, que não vai ser abandonado ou descartado. O investimento da igreja na Record continua. Não só na Record, como na Band, na CNT. A igreja acredita na força desses veículos. Continua igual a relação da igreja com Record e da Record com a igreja. Esse espaço que eles ocupam continua sendo importante. Não há insatisfação alguma. (KEILA JIMENEZ)


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