Folha de S. Paulo


Arnaldo Antunes lança álbum no ritmo de uma faixa nova por mês

As últimas férias do cantor e compositor Arnaldo Antunes deram a ele muito trabalho. Foi no começo do ano, em dias de descanso, que uma leva de músicas novas apareceu para mudar seus planos para esta temporada.

Uma delas, "Muito Muito Pouco", estará disponível em streaming a partir de segunda-feira, no site www.arnaldoantunes.com.br. É a primeira de uma série de quatro, que serão lançadas individualmente na primeira segunda-feira de cada mês.

Seu último álbum solo de inéditas foi "Iê Iê Iê", de 2009. Depois ele gravou dois discos registrando shows, "Ao Vivo Lá em Casa" (2011) e "Acústico MTV" (2012), além do álbum "A Curva da Cintura", com o guitarrista Edgard Scandurra e o músico Toumani Diabaté, do Mali.

Danilo Verpa/Folhapress
Arnaldo Antunes no telhado de sua casa no Alto de Pinheiros, em SP, mesmo lugar onde gravou DVD em 2010
Arnaldo Antunes no telhado de sua casa no Alto de Pinheiros, em SP, mesmo lugar onde gravou DVD em 2010

A ideia original era dedicar este ano apenas a shows, encerrando um ciclo, e voltar aos estúdios só em 2014. Mas as férteis férias apressaram o processo do álbum, que sairá em outubro com o nome "Disco", que incluirá as quatro faixas pré-lançadas.

"Muito Muito Pouco" traz um quarteto de cordas com arranjos de Ruriá Duprat. Para Arnaldo, "a mistura deu uma sonoridade original, uma timbragem bacana, quero trabalhar mais com isso".

Em sua casa, no Alto de Pinheiros, em São Paulo, Arnaldo falou à Folha sobre esse momento inédito na carreira.

*

Folha - Por que você lançou dois álbuns ao vivo seguidos?
Arnaldo Antunes - Acho que são duas sonoridades bem diferentes, como se eu lançasse um elétrico e um acústico. Mas coincidiu com o convite da MTV, era um sonho fazer um acústico. Alguns são muito legais, adoro o do Gil, o do Nirvana. Era um formato que me seduzia. Quando eu fiz o disco "Qualquer" era quase um acústico.

Isso não deixou sua produção represada?
Teve o projeto "A Curva da Cintura", com o Edgard Scandurra e o Toumani Diabaté, que é de músicas inéditas, são parcerias. Também teve mais duas inéditas no "Acústico MTV". E teve uma que entrou no "Ao Vivo Lá em Casa", que eu fiz para o filme da Laís [Bodansky], "As Melhores Coisas do Mundo".

Minha produção grande de compositor fica guardada, ou eu dou quando algum intérprete pede. No disco da Marisa [Monte] tem muitas parcerias nossas. Tudo acaba tendo uma vazão, então não tenho ansiedade para gravar e mostrar. Mas tem momentos, como esse das últimas férias, que me animaram a entrar logo no estúdio.

Enquanto grava "Disco", você vai seguir com os shows do "Acústico MTV"?
Atualmente eu estou fazendo três shows diferentes. A maior parte do tempo é o do "Acústico", é a prioridade. Tem outro que eu faço eventualmente só com dois violões, para espaços menores. Não é uma prioridade, mas é prazeroso fazer. E o terceiro é o do "A Curva da Cintura", que nem fazemos tanto, mas no mês passado rolaram oito shows na Europa, com o Edgard e o Toumani. No fim do ano já estreia o show do disco novo, que sai em outubro. Já tem umas sete faixas.

Você parece sempre bem à vontade no palco. É a mesma coisa ao gravar?
Na época de gravação, a tensão fica mais fora do estúdio do que dentro. Ali estou à vontade, produzindo. Entre uma sessão de estúdio e outra é quando fico pensando em melhorar isso ou aquilo, aí é um período de muita ansiedade, meio angustiante.

Eu quis gravar dessa forma mais espaçada, entre os shows, pensando que isso me faria ter, pela primeira vez, um processo de gravação mais sereno, digamos. Muito pelo contrário. Acabei expandindo o período de tensão.

Como surgiu "Joga Arroz", a música que você e seus parceiros do Tribalistas, Marisa Monte e Carlinhos Brown, lançaram nesta semana em apoio ao casamento gay?
É uma causa com que a gente simpatiza, e acho que merece uma mobilização da classe artística e da sociedade. É preciso liberdade para se escolher a maneira de amar. É um jingle, não?

É uma oportunidade para fazer alguma coisa como Tribalistas. De vez em quando sou cobrado para ter um outro disco do Tribalistas. A gente adorou, mas não é um grupo que vai seguir carreira junto. A gente faz parcerias que acabam entrando nos nossos discos individuais.

Eventualmente, a gente pode se encontrar para fazer algo, como fizemos no Museu do Ritmo, num dos saraus do Brown, há seis anos. Como fizemos no meu "Acústico" e na inauguração do iTunes Stores, fizemos quatro músicas juntos. São apenas reencontros. Assim como, depois de sair dos Titãs, participei do "Acústico" da banda e, no ano passado, cantei no show dos 30 anos, foi legal.

Consegue acompanhar as novidades musicais?
Sou curioso, principalmente com o que é feito no Brasil. Não acompanho o pop rock internacional, eventualmente alguma coisa. Estou curioso para ouvir o novo disco do Daft Punk. O que sai no Brasil eu tento seguir, até porque conheço pessoas produzindo coisas aqui. Adorei o novo disco da Tulipa [Ruiz], da Karina [Buhr], da Céu, do Curumin.


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