Folha de S. Paulo


"O Grande Gatsby" resgata desejo de extravagância dos anos 1920

Filmes que inspiram a moda e detonam tendências nas ruas não são raros. Pelo contrário, já que esse tradicional casamento costuma beneficiar ambas as indústrias: a do cinema e a da costura.

Mas, diferentemente de blockbusters como "Alice" (2010), de Tim Burton, e "Crepúsculo" (2008), que inspiraram o varejo somente após serem lançados, "O Grande Gatsby", do australiano Baz Luhrmann, ganhou as passarelas antes mesmo de entrar em cartaz --o filme fará sua estreia em circuito nacional na próxima sexta-feira.

Atentas ao anúncio das filmagens e à estreia antes prevista para o ano passado, Gucci e Ralph Lauren apresentaram, em 2011, coleções recheadas de referências à adaptação do livro homônimo escrito pelo americano F. Scott Fitzgerald (1896-1940). O longa com Leonardo DiCaprio e Carey Mulligan tem ação ambientada nos anos 1920.

Agora, meses após o estúdio Warner adiar o lançamento de "O Grande Gatsby", grifes como Tiffany & Co. (joias), Adriana Degreas (praia), Emporio Armani e Alexandre Herchcovitch (moda feminina) destilam os "anos loucos" em suas coleções para injetar nas ruas os melindros da época e os grafismos do movimento art déco.

A veia festeira e o tom de melancolia característicos do período que antecedeu a depressão de 1929 nos EUA pairam sobre os figurinos do remake e dão base ao revival da década de 1920 na moda.

Concebidas pela figurinista Catherine Martin em parceria com a estilista italiana Miuccia Prada, as roupas do filme trazem, no melhor estilo cabaré, a silhueta reta dos vestidos da época, plumas, aplicações de brilho e linhas geométricas do art déco.

"Baz [Luhrmann, diretor do longa e marido de Catherine] não queria garotas balançando pérolas, mas sim um novo olhar sobre essa década, uma paisagem que o público reconheça e que o surpreenda", disse Martin à Folha, durante a pré-estreia do filme no Festival de Cannes, no mês passado.

Além da Prada e da grife Miu Miu --marca jovem de Miuccia--, a joalheria Tiffany & Co. foi convocada a criar os acessórios do filme.

A tiara de diamantes --vendida sob encomenda por US$ 200 mil--, os anéis e os colares vestidos por Carey Mulligan, que interpreta Daisy Buchanan, paixão de Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio) no romance de Fitzgerald, inspiraram uma segunda coleção, esta com preços mais "acessíveis", da Tiffany & Co.

A grife americana masculina Brooks Brothers também entrou na onda e lançou uma elogiada coleção de alfaiataria baseada no filme.

Entre os itens que melhor definem o estilo do homem dos "anos loucos" estão os sapatos "brogues" (estilo Oxford), os ternos completos (com coletes) e as gravatas listradas.

REFERÊNCIAS

O "frisson" da moda com o filme ganhou outro capítulo no mês passado, quando a loja de departamentos Harrod's, em Londres, reproduziu em sua vitrine o clima de "Gatsby", com manequins e cenário inspirados no longa.

O flerte do diretor Baz Luhrmann com a moda do início do século 20 vem de temporadas passadas.

Além de ter dirigido "Moulin Rouge" (2001), ambientado na virada do século 19 para o 20, foi responsável, em 2012, pela curadoria da exposição "Impossible Conversations", do Metropolitan Museum of Art, em Nova York.

Divulgação
Leonardo DiCaprio e Carey Mulligan em cena de
Leonardo DiCaprio e Carey Mulligan em cena de "O Grande Gatsby", inspirado no clássico de F. Scott Fitzgerald

A mostra reproduzia, em vídeos dirigidos por ele, "conversas impossíveis" entre Miuccia Prada e a estilista Elsa Schiaparelli. Ao lado de Madeleine Vionnet, Schiaparelli foi o grande nome da costura na "belle époque".

Segundo a diretora para a América Latina do portal de tendências WGSN, Andrea Bisker, o interesse das marcas e do consumidor pelo estilo dos anos 1920 se deve, em grande parte, aos excessos que ele transmitia.

"Com o fim da Primeira Guerra, o clima era de comemoração. Havia um sentimento de liberdade que, na moda, foi traduzido em decotes, brilhos e cinturas baixas nas peças femininas. Já na masculina, em ternos elegantes e coloridos", diz Bisker.

Linhas de grifes nacionais, como a mineira Barbara Bela --inspirada em "O Grande Gatsby"-- e a paulista Pop Up Store, denotam o clima de balada sem hora para acabar citado pela especialista. Além das linhas geométricas e dos vestidos soltos, ambas apostam nos paetês e nos canutilhos em peças para a noite.

A década de 1920 também dá o tom a detalhes das coleções de estilistas brasileiros como Emannuelle Junqueira e Alexandre Herchcovitch.

No desfile de verão 2014 do designer, modelos com corte de cabelo curto e ondulado nas pontas deram as caras, e ele usou as cores preto e branco, comuns ao art déco.

Já Emannuelle Junqueira, conhecida pelo romantismo de criações para noivas, foi direto ao ponto e lançou uma coleção de "prêt-à-porter" dedicada à década. As peças da linha After Six são trabalhadas em renda, com linhas verticais, alongando a silhueta.

"Os anos 1920 fascinam pela fluidez das roupas femininas e o toque de nostalgia", diz Junqueira. "O clima é melancólico, mas há o desejo de extravagância contida, próprio da época em que vivemos." (Pedro Diniz)

Colaborou RODRIGO SALEM, enviado especial a Cannes


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