Folha de S. Paulo


Sambô faz sucesso com versões em samba de Rolling Stones e U2

Imagine se ícones mundiais resolvessem interpretar, em ritmo de rock, clássicos do pagode dos anos 1990.

Seria no mínimo curioso observar Paul McCartney cantar "Dança da Vassoura" (do Molejo); Mick Jagger, "Me Apaixonei pela Pessoa Errada" (do Exaltasamba); Steven Tyler, "Recado à Minha Amada" (do Katinguelê); Bon Jovi, "Derê" (do Soweto); Bob Dylan, "Cohab City / Vem pra Cá" (do Negritude Junior).

Se parece improvável que a mistura entre rock e samba parta dos estrangeiros, a combinação insólita não afugenta músicos brasileiros.

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O grupo Sambô, que canta clássicos do rock em ritmo de pagode
O grupo Sambô, que canta clássicos do rock em ritmo de pagode

Grupos como o Sambô, que interpreta canções de Janis Joplin, U2, Rolling Stones e Maroon 5 em levada de samba, têm visto as vendas de seus discos se multiplicarem, assim como o público de seus shows e sua exposição em programas de televisão.

Para se ter uma ideia, o grupo formado em Ribeirão Preto, em 2006, vendeu cerca de 35 mil cópias de seu primeiro disco, lançado em 2010. Com o segundo, batizado de "Estação Sambô" (Som Livre), a banda já ultrapassa a marca de 200 mil cópias, se se somarem os totais de CDs e DVDs comercializados.

"A gente começou a chamar a atenção por causa das músicas internacionais interpretadas em ritmo de samba. Tem roqueiro purista que reclama, mas é preciso lembrar que o rock também veio de uma mistura", comenta Ricardo Gama, tecladista e um dos arranjadores do Sambô.

E não é apenas cantando em inglês que o grupo ganhou notoriedade, mas também com simples interpretações de outros estilos com pegada de samba e pagode.

Basta ligar a TV na Globo e prestar atenção na abertura da atual novela das 19h da emissora, "Sangue Bom".

O tema que inicia o folhetim é "Toda Forma de Amor", de Lulu Santos, relido pelo grupo do interior de São Paulo em ritmo de batucada.

O Sambô está longe de ser pioneiro na seara do rock envolvido em roupagem pagodeira. Em 1992, em seu segundo álbum, o Raça Negra já gravara uma versão em pagode para "Será", sucesso da Legião Urbana.

"Eu acho o maior barato, é um diferencial. Gosto muito do Sambô. Eles têm feito um trabalho bacana em cima de regravações de músicas estrangeiras", elogia Luiz Carlos, vocalista do Raça Negra.

"SAMBA IS ON THE TABLE"

No movimento de pagodear em inglês, o Sambô também não está sozinho. Depois do sucesso do grupo, outras bandas têm seguido a trilha, como Oba Oba Samba House e Rio Samba 'N' Roll.

"Os meninos do Sambô têm feito um som legal. Fico feliz de ver a música do povo tendo essa exposição", diz Salgadinho, que liderou o Katinguelê nos anos 1990.

E o modismo não se restringe ao pagode. Duplas sertanejas também começam a incluir no repertório de seus shows canções em inglês.

É o caso de Jorge e Mateus, cuja interpretação de "Use Somebody", dos americanos do Kings of Leon, já foi vista por mais de 100 mil pessoas no YouTube. (LUCAS NOBILE)


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