Folha de S. Paulo


Análise da trama indica pistas para boas bilheterias

Esqueça os zumbis. Quem está invadindo Hollywood são os devoradores de dados.

O mesmo tipo de análise numérica que já revolucionou áreas como a política e o marketing on-line é cada vez mais usado pela indústria do entretenimento. Ele agora está se infiltrando em um dos últimos cantos de Hollywood onde a criatividade e o instinto à moda antiga ainda predominavam: o roteiro.

Um ex-professor de estatística e fumante inveterado chamado Vinny Bruzzese --"o cientista louco que reina em Hollywood", nas palavras de um cliente,-- está promovendo agressivamente um serviço que ele chama de avaliação de roteiro.

Por até US$ 20 mil por obra, Bruzzese e sua equipe de analistas comparam o gênero e a estrutura narrativa de um roteiro a filmes já lançados à procura de pistas para o sucesso nas bilheterias.

Sua empresa, a Worldwide Motion Picture Group, também vasculha um vasto banco de dados de pesquisas qualitativas atrás de filmes semelhantes e entrevista 1.500 potenciais espectadores para perguntar o que eles gostaram e o que mudariam no roteiro.

J. Emilio Flores/Reprodução/The New York Times
Vinny Bruzzese (com Miriam Brin, sua principal analista); ele cobra até US$ 20 mil para avaliar um roteiro
Vinny Bruzzese (com Miriam Brin, sua principal analista); ele cobra até US$ 20 mil para avaliar um roteiro

"Os demônios dos filmes de terror podem atacar as pessoas ou serem evocados", disse Bruzzese. "Se for um demônio que ataca, você provavelmente terá um faturamento bem maior no fim de semana inicial do que se ele for evocado. Então, livre-se daquela cena com o tabuleiro Ouija."

Cenas de boliche tendem a aparecer em filmes que vão mal, prosseguiu Bruzzese, 39. Portanto, é estatisticamente insensato incluir uma no seu roteiro.

Suas recomendações, entregues em um relatório de 20 a 30 páginas, pode incluir ajustes pontuais ou reescritas totais.

Consultores de roteiros há anos trabalham discretamente nas linhas de montagem cinematográficas, mas muitos roteiristas de ponta rejeitam a intrusão estatística de Bruzzese no seu ofício.

"Esse é o meu pior pesadelo", disse Ol Parker, roteirista de "O Exótico Hotel Marigold". "É o inimigo da criatividade, nada mais do que uma tentativa de imitar o que já funcionou antes."

Mas muitos produtores, executivos de estúdios e grandes financiadores do cinema discordam. Eles já contrataram a empresa de Bruzzese para analisar cerca de cem roteiros, incluindo um tratamento preliminar de "Oz, Mágico e Poderoso", que faturou US$ 484,4 milhões.

Bruzzese é um dos poucos, senão o único, a usar essa forma de análise. Agora, ele está tramando levá-la à Broadway e à televisão.

"Isso elimina grande parte do risco do que eu faço", disse o produtor Scott Steindorff, que contratou Bruzzese para avaliar o roteiro do bem-sucedido "O Poder e a Lei" (2011).

Sabe-se que pesquisas com espectadores podem salvar um filme, mas também podem errar feio. Elas indicavam, por exemplo, que "Clube da Luta" seria um fracasso. O filme faturou mais de US$ 100 milhões.

Mas, à medida que as apostas para a produção de filmes vão ficando mais altas, Hollywood se volta ainda mais para as pesquisas a fim de minimizar o chute.

"Foi um choque completo, as melhores anotações sobre um esboço que eu já recebi", disse um roteirista, que pediu anonimato citando sua reputação.

Grandes financiadores de filmes e consultores como Houlihan Lokey confirmaram que já usaram o serviço, mas não quiseram dar declarações a respeito. Os seis principais estúdios de Hollywood se recusaram a comentar.

"Todos os roteiristas acham que seus bebês são lindos", disse Bruzzese. "Estou aqui para dizer a verdade: alguns bebês são feios."


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