Folha de S. Paulo


"Sou feliz por não ter tido Facebook quando era adolescente", diz Sofia Coppola

As discussões sobre redes sociais e invasão de privacidade tomam Cannes.

François Ozon tocou de leve no assunto em "Jeune et Jolie" (jovem e bonita), sobre uma adolescente que usa um fórum na internet para arrumar clientes como prostituta. Mas "Bling Ring: A Gangue de Hollywood", de Sofia Coppola, escancarou o assunto de vez nesta quinta-feira (16), segundo dia do festival.

Baseado em uma história real reportada pela revista "Vanity Fair" em 2010, o longa mostra um grupo de adolescentes que invade e rouba casas de celebridades --cujo endereços estão no Google e cuja agenda está em qualquer site no estilo "TMZ". "

"Sou tão feliz por não ter tido Facebook quando eu era adolescente", brinca Sofia Coppola. "Dez anos atrás, essa história não poderia existir. Essas meninas sabiam exatamente onde as celebridades estavam e postavam até fotos no Facebook de dentro das casas invadidas."

"Facebook hoje é quase uma obrigação, porque todo mundo tem e você acha que vai ficar pra trás se não tiver. Se fizermos besteira, não vamos saber apenas quando acordar no outro dia, mas tudo estará no Facebook, Twitter", reclama a atriz adolescente Claire Julien, filha do diretor de fotografia Wally Pfister ("O Cavaleiro das Trevas"). "Cada geração tem um problema. O nosso são as redes sociais", aponta Israel Broussard, que faz Marc, o único garoto do grupo de saqueadores modernos.

Emma Watson, a eterna Hermione de "Harry Potter", faz a garota mais deslumbrada com os furtos milionários --cerca de US$ 3 milhões em jóias, sapatos e roupas foram levados de nomes como Paris Hilton, que cedeu sua casa para as filmagens, e Lindsay Lohan.

Educada em casa por uma mãe que cria um cão yorkshire como um filho e seguindo os preceitos de "O Segredo" [documentário de auto-ajuda que virou febre há seis anos], a Nicki de Watson é a primeira a admitir que "aprendeu a lição".

"Ela achava que nada poderia acontecer com ela e seu sonho de ser famosa", diz Watson, a ex-integrante da série "Harry Potter" com mais ousadia em seus novos papéis. Em 2012, protagonizou o ótimo "As Vantagens de Ser Invisível" e, nos próximos meses faz o papel dela mesma em "É o Fim", comédia boca-suja de Seth Rogen ("Superbad - É Hoje!").

"Harry Potter parece que foi muito tempo atrás, mas ainda está na mente e nas salas das pessoas", diz a atriz. "Não quero fugir da série, tenho orgulho dela, mas agora estou amando me transformar em personagens diferentes. Posso trabalhar mais relaxada agora sem ter ninguém que sabe meus diálogos de cor e salteado."

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Já Sofia Coppola parece ter se encantado mais pela história quase inacreditável contada em "Bling Ring" do que pelas pessoas envolvidas. O filme não chega a ser niilista como "Um Lugar Qualquer" (2010), mas passa longe da sensibilidade de "As Virgens Suicidas" (1999) ou "Encontros e Desencontros" (2003). Há ótimas situações, mas pouco cimento para ligá-las.

"É o mundo de excessos esses que vivemos. Sim, existe esse lado na vida [de quem trabalha com entretenimento]", admite a cineasta, que ganhou aplausos moderados na sessão para a imprensa mundial --e não as mesmas vaias recebidas por "Maria Antonieta", sete anos atrás. "Adoro reações exageradas. Gosto que o público reaja aos meus filmes, seja odiando, seja amando."


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