Folha de S. Paulo


Sucesso de bilheteria, "O Grande Gatsby" é recebido com silêncio sepulcral em Cannes

A equipe do filme "O Grande Gatsby" está vivendo em uma montanha russa emocional. O longa foi destruído por boa parte da crítica norte-americana, em sua estreia, semana passada, mas rendeu ótimos US$ 52 milhões (cerca de R$ 104,2 mi) no fim de semana de abertura.

Em Cannes, o filme foi escolhido para abrir o festival, nesta quarta-feira (15), mas a recepção da imprensa foi de um silêncio sepucral --nem aplausos nem vaias, apenas desprezo.

"Tem sido uma semana nervosa para a gente", confirma Baz Luhrmann, em entrevista para imprensa mundial ao lado de seus protagonistas Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire e Carey Mulligan. "Eu fiz 'Moulin Rouge' e 'Romeu + Juliea', meus filmes não combinam com críticos e eu apóio. O que importa é que ele foi aceito pelo público e agradeço por isso."

FILME SEM ALMA

Quando F. Scott Fitzgerald escreveu "O Grande Gatsby", em 1925, a ideia era de expor os exageros da elite nova-iorquina, ao mesmo tempo em que revelava, de leve, a ascensão artística negra nos Estados Unidos. O retrato de um dos escritores americanos mais célebres era crítico e charmoso ao mesmo tempo.

Nas mãos do australiano Baz Luhrmann ("Moulin Rouge"), a história de amor de um misterioso milionário chamado Jay Gatsby (DiCaprio) por uma mulher casada (Carey Mulligan).

"Nos Estados Unidos, 'O Grande Gatsby' é leitura essencial. Quando peguei o livro, eu era menor e, apesar de ter ficado fascinado, não entendi a a profundidade existencial que havia naquelas palavras", confessa DiCaprio. "Depois, ao saber que faria a adaptação, comprei uma primeira edição do livro e tudo mudou. O melhor de tudo é como discutimos cada frase e símbolo colocado por Fitzgerald no texto até hoje. A história do sonho americano por meio de um homem que queria ser um novo Rockfeller e perde a noção do que um dia foi.

Na adaptação do australiano Baz Luhrmann ("Moulin Rouge"), o deslumbramento pelos excessos da época supera de longe a vontade de exibir qualquer desconforto com grandes festas, tratamento elitista e diferença de classe. Nos piores momentos, "O Grande Gatsby" vira uma grande orgia visual que mais parece um comercial de champanhe e jóias --com destaque para a péssima sequência que apresenta a personagem de Mulligan, digna de uma novela de Gloria Perez, com cortinas voando, close em anel de brilhante e caras e bocas da atriz.

Luhrmman, cuja mão é pesada por natureza, faz 40 minutos de extravagância em 3D, com longos jogos de câmera e brincadeiras com o 3D que acentuam sua paixão pela Nova York da década de 1920. A brincadeira com o uso de música moderna, tendo o rapper Jay-Z e seu "Watch The Throne" (feito com Kanye West), de 2011, como espinha dorsal, não soma como em "Moulin Rouge", nem mesmo quando The XX ou Florence Walsh ecoa na tela.

"Jay-Z foi a primeira pessoa a assistir ao filme quando terminei", diz Luhrmann. "Quando acabou, ele falou: 'podemos arrumar a trilha sonora'. A música é a estrela desse filme e é a grande presença afro-americana nele, que reflete como Fitzgerald usava o jazz no núcleo do livro."

No momento em que "O Grande Gatsby" se acalma do próprio nervosismo, o longa se encontra e vira uma história de amor bastante fiel 'a obra original sobre um milionário misterioso (Leonardo Di Caprio) que procura a atenção de uma mulher casada (Carey Mulligan). Uma das mudanças no roteiro de Luhrmann e Craig Pearce, é a utilização de um flashback estrelado por Nick Carraway (Tobey Maguire) como narrador e alter ego de Fitzgerald, transformando o personagem no epicentro de todo o drama e recipiente de palavras escritas pelo autor em outros livros.


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