Folha de S. Paulo


Lei da televisão por assinatura criou safra de canais nacionais nanicos e fartos de assinantes

Parte da safra de canais nacionais surgida após a aprovação da nova lei da TV paga (lei 12.485/11), o Curta!, assim como seus pares, nasceu com estrutura enxuta, mas dentro da programação de operadoras com milhões de assinantes.

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O Curta! tem 15 pessoas na equipe, que trabalha freneticamente em sua sede, no Rio.

A regra, segundo o diretor Júlio Worcman, é: ninguém tem uma só função. Programadores são também apresentadores. E editores atualizam páginas em redes sociais e atendem à imprensa.

Mesmo escondido no número 113 da Net, o canal caiu no gosto dos cinéfilos com uma programação de curtas e longas nacionais dificilmente exibidos na TV.

No Curta! não se vê sucessos de bilheteria do momento, mas pode-se topar com documentários da década de 1970 -como "Meu Nome É Gal"- e curtas dos anos 1980.

Criado com investimento de R$ 2,4 milhões para licenças de exibição de conteúdo e de "mais um tanto", nas palavras de Worcman, em equipamento, o canal estreou em novembro do ano passado.

O empreendimento tem um braço na internet: o site Porta Curtas, que reúne quase 8.000 curtas desde 2002.

Questionado sobre a audiência do canal, Worcman ri e devolve: "Você é quem poderia me dizer". Sem acesso aos dados do Ibope ("Nem vi os preços ainda", diz), ele monitora a repercussão dos programas nas redes sociais.

A nova lei da TV paga determina que, a cada seis canais estrangeiros (como Fox e Disney), pacotes de TV disponibilizem um canal brasileiro que exiba, em horário nobre, três horas e meia semanais de conteúdo nacional qualificado (leia ao lado).

BOOM BRASILEIRO

Com esta nova demanda das operadoras, houve um boom de canais brasileiros deste tipo credenciados pela Ancine (Agência Nacional do Cinema).

No polo oposto do cardápio de canais criados na esteira da nova lei está o Arte 1.

O canal de artes e cultura do Grupo Bandeirantes só saiu do papel -com investimento de R$ 10 milhões e apenas 30 pessoas na equipe- anos após a sua concepção inicial. Foi assediado por operadoras de TV paga, mas nenhuma acenava com espaço definitivo na grade. Após a aprovação da lei, a emissora entrou na Net e na Sky.

"Alcançamos a marca de 10 milhões de assinantes, número que superou, e muito, as expectativas. Imaginávamos algo em torno de 2 milhões de assinantes no primeiro ano do canal", conta o diretor-geral, Rogério Gallo.

"Estamos nesse momento envolvidos em apresentações comerciais para grandes clientes e agências e a receptividade tem sido excelente."

Para Gallo, a classificação de "canal qualificado" foi o pulo do gato do Arte 1. "Se ficássemos nos pacotes 'premium' das operadoras teríamos, com sorte, 200 mil assinantes", estima.

OUTROS CANAIS

A lei da TV paga deu o empurrão que faltava para outros canais. Cícero Aragon, diretor dos canais Music e Prime Box Brazil, diz que a ideia de uma emissora voltada para o cinema nacional da última década é de 2005.

"Na época, o mercado não era receptivo à iniciativa, e a gente aguardou o momento de isso acontecer", diz.

O Prime Box Brazil dedica-se a longas metragens nacionais produzidos a partir dos anos 2000. O Music Box, por sua vez, alterna shows brasileiros com videoclipes.

"Pelas redes sociais e pelos movimentos de agências de publicidade interessadas, entramos no radar", avalia.

Outro que entrou no ar já com 1,2 milhão de assinantes foi o canal dedicado à pesca, Fish TV. "O mercado brasileiro de pesca esportiva é gigantesco e agora somos procurados pelas operadoras", diz o diretor Luiz Motta.

No caminho inverso está a TV Climatempo. O canal de meteorologia nasceu com 500 mil assinantes. Logo, foi para a Sky, pulando para 5 milhões de assinantes.

Em agosto de 2012, a Ancine negou à TV o carimbo de canal qualificado e, com isso, ela foi desligado da Sky, que alegou precisar do espaço no satélite para outros canais qualificados.

O Climatempo brigou na Justiça, mas não conseguiu reverter a decisão. Desde então, o canal demitiu 70% dos 100 funcionários e ameaça fechar.

Editoria de Arte/Folhapress
A NOVA TV O conceito de conteúdo qualificado e os canais do tipo
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