Folha de S. Paulo


Câmara Brasileira do Livro diz que investe quase R$ 1 milhão na Feira de Frankfurt

A Câmara Brasileira do Livro rebateu, na noite desta segunda (6), a informação de que não há contrapartida do mercado editorial brasileiro na participação do Brasil como país convidado da Feira do Livro de Frankfurt, o maior evento editorial no mundo, que acontece em outubro.

"Foi dito que o governo banca tudo. Isso não é verdade. As editoras têm um investimento anterior à feira. Está sendo investido quase R$ 1 milhão", disse à Folha a presidente da CBL, Karine Pansa, referindo-se a declarações do novo presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), o cientista político Renato Lessa.

Em 1994, setor editorial assumiu organização da participação brasileira em Frankfurt

Em entrevista publicada na Folha no sábado (4), Lessa afirmou que a participação da Câmara Brasileira do Livro na organização é toda feita com recursos do Fundo Nacional de Cultura, repassados por convênio pela Fundação Biblioteca Nacional.

"O país precisa ter projeção literária internacional, mas isso não deve ser feito às custas exclusivamente de instituições públicas. O mercado editorial brasileiro é rico, diversificado, complexo, no bom sentido. Pode ter uma participação predominante nessa projeção dos autores brasileiros. Isso é do interesse das editoras. Que haja uma contrapartida", disse Lessa.

Questionado sobre a existência ou não dessa contrapartida hoje, o presidente da FBN respondeu: "Posso falar com relação a Frankfurt: não, não há. Frankfurt está sendo feita com orçamento exclusivamente, até o momento, com base em recursos públicos via Fundo Nacional de Cultura."

GASTOS DO GOVERNO

O orçamento governamental previsto para a participação brasileira na feira é de R$ 18,9 milhões, dos quais R$ 15,7 milhões já estão garantidos. O restante virá também de recursos públicos, segundo Lessa, seja via investimento direto do governo, seja via renúncia fiscal --a Câmara Brasileira do Livro foi autorizada a captar via Lei Rouanet R$ 13,3 milhões, trabalho que ainda não rendeu frutos.

O quase R$ 1 milhão que a CBL diz gastar não entra no montante de R$ 18,9 milhões. Somados os valores informados pelo governo e pela entidade, o mercado seria então responsável por cerca de 5% do total gasto pelo país na Feira de Frankfurt.

Pansa afirma que os editores pagarão o equivalente a 200m² do estande brasileiro na feira --os outros 500 m² serão pagos pelo governo. O montante total investido no estande não foi informado.

Diz ainda que a CBL levará seis autores brasileiros para Frankfurt, cujos nomes devem ser definidos até o final deste mês. Seria uma contrapartida à lista de 70 brasileiros cujas passagens e hospedagens em Frankfurt serão pagas pelo governo.

Luciana Cavalcanti/Folhapress
A presidente da Câmara Brasileira do Livro Karine Pansa, que divulgou investimento de R$ 1 milhão em Frankfurt
A presidente da Câmara Brasileira do Livro Karine Pansa, que divulgou investimento de R$ 1 milhão em Frankfurt

A presidente da Câmara Brasileira do Livro cita o trabalho do projeto Brazilian Publishers, uma parceria da CBL com a Apex-Brasil de fomento à exportação de conteúdo editorial brasileiro, como responsável pela maior parte desse investimento. "Para ir a Frankfurt, o editor tem que estar preparado. Organizamos seminários sobre direitos autorais, ensinamos o que é um catálogo exportável, entre outras coisas", diz Pansa.

No ano passado, além da autorização para captar R$ 13,2 milhões via Lei Rouanet para a organização do evento, a Câmara Brasileira do Livro recebeu do governo, via convênio, duas parcelas para participar da organização da feira, uma de R$ 5 milhões e outra de R$ 1,3 milhão.

MEIO A MEIO

Leonardo Wen/Folhapress
O novo presidente da Biblioteca Nacional, Renato Lessa, na sede da instituição, no Rio
O novo presidente da Biblioteca Nacional, Renato Lessa, na sede da instituição, no Rio

Durante a entrevista à Folha, na semana passada, Lessa citou como bom exemplo de parceria o caso português, em referência à participação do governo de Portugal na homenagem ao país na recente Feira do Livro de Bogotá.

"O Estado português participou com metade dos custos. Houve sucesso na apresentação da literatura portuguesa na Colômbia, onde era praticamente desconhecida. O Estado pode entrar ajudando com alguma coisa, mas os editores têm que ter uma participação maior nisso, com investimentos na infraestrutura da própria feira."


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