Folha de S. Paulo


Réplica: MAC-USP supera limitações na mostra "O Agora, O Antes"

Mais do que o título "O MAC tem problemas estruturais e conceituais", em texto de Fabio Cypriano publicado nesta "Ilustrada", estranhei o subtítulo: "Mostra pouco ambiciosa que inaugura nova sede do museu é prejudicada por excesso de colunas e pé direito baixo".

A Folha esqueceu que o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo atua ali faz mais de um ano? O texto informa que a exposição O Agora, o Antes: Uma Síntese do Acervo do MAC "finalmente ocupa o sétimo andar da nova sede".

Crítica: MAC tem problemas estruturais e conceituais

Como assim? Não se trata do fim de um processo. Essa exposição, junto com "Di Humanista", inaugurada na mesma data, dá continuidade ao processo de implantação do Museu naquele espaço, iniciado em janeiro de 2012, e que no estágio atual já comporta sete exposições.

Marcelo Justo - 17.abr.13/Folhapress
Sala da exposição 'O Agora, O Antes', que está em cartaz na nova sede do MAC-USP
Sala da exposição 'O Agora, O Antes', que está em cartaz na nova sede do MAC-USP

Portanto, não é a mostra que deve ou não ser julgada ambiciosa. Ambicioso é o processo total de implantação de um museu público universitário naquele complexo e o que quer que se escreva sobre a mostra deveria levar em conta esta situação.

O jornalista parece ter ficado decepcionado com a montagem da exposição que, para ele, não teria dado conta dos problemas resultantes da adaptação do edifício para seu novo objetivo.

Lamento a decepção, mas afirmo que a equipe conseguiu driblar as dificuldades apresentadas pelo espaço sem esconder, com recursos cenográficos, os condicionantes físicos do lugar. Este é um partido expográfico assumido pelo Museu e que será mantido nas próximas. (Lidar com limitações impostas pela adaptação de edifícios históricos é uma problemática constante na história da arquitetura de museus que não deve ser camuflada).

Quando Cypriano escreve sobre a mostra "em termos de conteúdo", fala da suposta dificuldade do MAC USP em apresentar seu acervo.

Para embasar essa impressão lembra que o Museu Reina Sofia "vem tentando rever a história da arte de um ponto de vista menos eurocêntrico". Já o MAC USP, "parece não buscar um realinhamento dentro desse panorama".

Rever a história da arte não significa seguir ditames dessa ou daquela instituição ou ditames "politicamente corretos" das penúltimas teorias. O MAC USP optou por reexaminar as narrativas mais arraigadas da história da arte "eurocêntrica", atacando um de seus baluartes: os gêneros artísticos tradicionais.

A partir da mostra fica claro como esses gêneros foram e vêm sendo processados por artistas modernos e contemporâneos, numa relação complexa de reiteração e superação de valores que transcendem a simples aproximação entre passado e presente.

Colocar em relação obras de arte que, separadas no tempo e no espaço turvam a hierarquia dos gêneros, é propor outro patamar para rever as narrativas canônicas da história da arte e mesmo aquelas que, sob pele de cordeiro, atuam para manter hegemonias centenárias.

Tal atitude perturba o conforto dos contentes ou os novos preconceitos da velha mídia? Paciência, este é o papel de um museu de arte contemporânea.

TADEU CHIARELLI, 56, é diretor do MAC USP.


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