Folha de S. Paulo


Crítica: MAC tem problemas estruturais e conceituais

A inauguração da mostra "O Agora, o Antes", que finalmente ocupa o sétimo andar da nova sede do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), revela uma série de dificuldades que envolveram a reforma do antigo prédio do Detran.

O próprio autor do projeto do edifício, Oscar Niemeyer (1907-2012), quando consultado sobre a reforma, propôs que a disposição dos andares fosse alterada, reduzindo alguns pisos, para assim se ampliar o pé-direito. Contudo, os órgãos reguladores do patrimônio, lamentavelmente, não permitiram a mudança.

Por conta disso, com "O Agora, o Antes" constata-se a inadequação da reforma para um espaço expositivo e, pior, a incapacidade da equipe expográfica do museu em lidar com essa situação.

Com pé-direito baixo e excesso de colunas, foram criados painéis em abundância, que mais lembram uma acanhada feira do que uma exposição museológica propriamente dita.

Dessa forma, o percurso torna-se excessivamente seccionado, sem organicidade, com um exagero de recortes. A expectativa, agora, é se nos demais andares a ocupação será tão problemática como a dessa primeira mostra.

Marcelo Justo/Folhapress
Sala da exposição
Sala da exposição "O Agora, o Antes" no Museu de Arte Contemporânea da USP

Em termos de conteúdo, "O Agora, o Antes" revela ainda uma outra dificuldade, que diz respeito ao projeto do museu em apresentar seu acervo.

Enquanto instituições internacionais, como o Museu Reina Sofia, vêm tentando rever a história da arte de um ponto de vista menos eurocêntrico, o MAC parece não buscar um realinhamento dentro desse panorama.

A exposição, com curadoria de Tadeu Chiarelli, diretor do MAC, agrupa trabalhos por gêneros tradicionais da história da arte, como o retrato ou a natureza-morta, sem uma ambição maior, dando a impressão de ocorrer como um mero exercício de aproximações entre o passado e o presente.

A primeira sala, nesse sentido, é um bom exemplo. Exibir o "Autorretrato" (1919), de Modigliani, junto com a ótima série "Uma Situação Estimulada" (1976), da polonesa Anna Kutera, poderia representar uma mudança de perspectiva no papel do artista.

Afinal, enquanto na obra de Modigliani o artista se autorepresenta de forma majestosa, Kutera aborda a fragilidade. Contudo, especialmente se tratando de um museu universitário, faltam textos educativos que apontem para tais questões.

NÃO CRONOLÓGICO

Dessa forma, se por um lado percebe-se a tentativa em construir um percurso que não seja cronológico, o que já vem acontecendo em instituições como a inglesa Tate há muito tempo, seria importante ir além de agrupamentos temáticos.

Reunir obras de clássicos do modernismo --como os estrangeiros Picasso, Chagal, De Chirico e Matisse, além dos brasileiros Tarsila do Amaral e Flávio de Carvalho-- com contemporâneos como Cildo Meireles, Cindy Sherman e Fernando Piola, em uma exposição de acervo é, sem dúvida, um grande avanço para o MAC. Mas uma grande exposição não se faz apenas com grandes obras.

O AGORA, O ANTES
QUANDO ter., das 10h às 21h, de qua. a dom., das 10h às 18h
ONDE MAC-USP (av. Pedro Álvares Cabral, 1.301, tel. 0/xx/11/3091-3039)
QUANTO grátis
AVALIAÇÃO regular


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