Folha de S. Paulo


Dennis Carvalho, que dirige nova novela das 19h da Globo, diz não se abalar com audiência

"Precisamos de um sucesso!" Foi assim que Dennis Carvalho, 66, abriu a coletiva de lançamento de "Sangue Bom", nova novela das 19h, que estreia amanhã na Globo.

Trama de "Sangue Bom" investe em comédia romântica jovem

A abordagem com ares de alfinetada revela a dura missão do diretor: reverter a queda de audiência do horário, que perdeu 25% de público com "Guerra de Sexos".

Incumbência difícil, mas não a pior para quem já teve de escalar, ensaiar e dirigir uma protagonista de novela das 21h em apenas dois dias.

Ze Paulo Cardeal/Divulgação
O diretor Dennis Carvalho comanda cena de
O diretor Dennis Carvalho comanda cena de "Sangue Bom", próxima novela das 19h da Globo

Em 2011, Dennis perdeu a mocinha de "Insensato Coração", Ana Paula Arósio, 12 horas antes de começar a gravar a novela. Recrutou Paola
Oliveira às pressas.

Em entrevista à Folha, o diretor fala sobre Ana Paula, a quem chama de "desequilibrada", confessa adorar trabalhar com "panelinhas" e diz não se abalar com as pressões por audiência.

*

Folha - Como é voltar a fazer novela das 19h?
Dennis Carvalho - Eu gosto muito, mas é um horário com um público flutuante, gente chegando, dona de casa fazendo o jantar...

Como foi o convite para dirigir a novela?
Geralmente é assim: o autor escolhe o diretor... É o lance da panelinha [risos]. Eu raramente emendo um trabalho no outro. Mas mal saí de "Lado a Lado", novela das 18h, e já peguei o texto da Maria Adelaide [autora de "Sangue Bom"], que eu amo.

Você trabalha com panelinhas de atores?
É panela no bom sentido. Como ficarei oito meses, 12 horas por dia, com gente que não gosto, que é mau-caráter? Prefiro trabalhar com amigos. Claro que eu não me fecho, sempre vou atrás de gente nova, mas peço referências antes.

Mas na "família" de "Insensato Coração" (2011) você perdeu a mocinha...
Nunca tinha passado por isso. A Ana Paula [Arósio] fez leituras, ensaios. Um dia antes de gravar, o meu telefone tocou no jantar avisando que ela não iria mais fazer a novela. Ninguém tem plano B para mocinha, né? Preparei a Paola [Oliveira] em dois dias. Trancamos ela no quarto com o texto, foi uma loucura. O figurino foi todo refeito às pressas.

Você falou com a Ana Paula?
Ela não atendia. Não brigamos. É desequilibrada, pirou e foi embora. Podia ter feito as coisas de outra maneira.

Mas você está escolado em casos difíceis, foi diretor do "Sai de Baixo", famoso pelas brigas do elenco...
Aquilo era o jardim da infância. Quando eles começavam a brigar, eu largava a gravação e ia passear na rua. Deixava eles sozinhos e voltava uma hora depois [risos]. Era enlouquecedor, mas também era o charme do programa. Agora vamos gravar um especial para o canal Viva. Será uma festa.

Você escolhe as cenas que vai dirigir?
Geralmente tenho esse privilégio, escolho as melhores cenas [risos]. Mas eu sou um diretor de atores, não de paisagens. Vários diretores priorizam a fotografia, a imagem linda, e se esquecem do ator.

A minha empregada não quer saber da fotografia, quer saber quem ama quem na novela, quem matou quem.

Como é assumir um horário com problemas de audiência?
Sei que há problemas no horário, mas não fico pensando, nem me abalo.
Quero fazer um trabalho bem-feito.

Você tem vontade de dirigir no cinema?
Tenho, mas a turma do cinema não me quer por lá. Sou o cara da televisão. É a história da panelinha [risos].


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