Folha de S. Paulo


Fase menosprezada da carreira de Tennessee Williams é revisada por críticos

"Críticos estão literalmente matando escritores", reclamou Tennessee Williams para a revista "The Paris Review", em entrevista publicada em 1981, dois anos antes de sua morte, aos 71 anos.

Obra de Tennessee Williams será revista em nova biografia

O autor norte-americano, que, nos anos 1940 e 1950, havia sido colocado em um pedestal por peças como "Um Bonde Chamado Desejo" (1947) e "Gata em Teto de Zinco Quente" (1955), referia-se, em parte, à desvalorização de sua própria imagem no circuito da Broadway.

O período que segue os anos 1960 representa ainda hoje o ponto frágil na carreira do dramaturgo, embora seja, paradoxalmente, uma fase altamente produtiva. Nos últimos 20 anos de sua vida, mais personalista do que nunca, Williams escreveu cerca de 30 peças, entre elas "In the Bar of a Tokyo Hotel" (1969) e "Clothes for a Summer Hotel" (1980).

"Acho que ainda está para ser descoberto como o século 21 responderá a essas peças", diz o crítico Gary Richards, professor da Universidade de Mary Washington.

"Temos notado um fantástico interesse nesses trabalhos agora, e críticos estão tendo de reconsiderar exatamente como Williams foi experimental nessa fase."

Ele se refere a uma recente retomada --em Nova York sobretudo-- das últimas peças de Williams.

Em 2010, "Vieux Carré" (1977) foi encenada pelo Wooster Group --espetáculo apresentado em São Paulo há um mês. Em 2011, o La MaMa, ícone do circuito experimental, encenou "Now the Cats with Jewelled Claws" (1969).

A história da literatura, diz Richards, está cheia de autores cujos trabalhos se tornam canônicos após terem sido considerados, inicialmente, fracassos.

"Herman Melville, por enquanto, é o que me vem à mente", diz. "Talvez, ao contrário destes casos, as últimas peças de Williams conquistem agora a mesma estima de seus trabalhos produzidos nos anos 1940 e 1950."

O debate tem sido encampado pelos principais biógrafos do autor. O escritor John Bak, que lançou em fevereiro "Tennessee Williams: A Literary Life", confirma em entrevista à Folha que Williams, em seus últimos anos de vida, esteve descontente com os críticos. "Mas ele sabia que a nova direção que havia tomado no teatro era a coisa certa a ser feita."

Ainda está para ser posta em campo a peça fundamental para essa revisão. No ano que vem será lançada uma das mais esperadas biografias do dramaturgo, "Tennessee Williams: Mad Pilgrimage of the Flesh", de John Lahr. À Folha ele declarou que "as críticas à obra de Williams têm sido pobres".


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