Folha de S. Paulo


Em show inspirado, Bethânia grava DVD da turnê "Carta de Amor" no Rio

Com um show inspirado e muito aplaudido, Maria Bethânia gravou o DVD de sua turnê atual, "Carta de Amor", em duas apresentações no Vivo Rio, no último fim de semana.

Acompanhada de sete músicos, liderados pelo maestro Wagner Tiso, ao piano, Bethânia mostrou um repertório de 30 canções muito bem encadeadas, entremeadas ocasionalmente por textos de autores como José Régio e Fernando Pessoa. Seu disco mais recente, "Oásis de Bethânia" (2012), serviu de base, com seis de suas dez canções aparecendo ao vivo; destas, destacam-se "O Velho Francisco", de Chico Buarque, e a canção que dá nome ao show, "Carta de Amor", música de Paulo César Pinheiro para letra da própria cantora.

A gravação acabou sendo também uma homenagem a Gonzaguinha, de quem a baiana interpretou quatro canções: a confessional "Sangrando" --que abriu o show em bela dobradinha com "Canções e Momentos", de Milton Nascimento--, a animada "Festa" e a dobradinha que encerrou o show de forma apoteótica, "Explode Coração" (cantada a capella) e "O que É, o que É".

O cenário simples e eficiente de Bia Lessa (também diretora do show) tinha inúmeras lâmpadas que desciam do teto ao nível do chão, coberto com um tapete prateado de tiras entrelaçadas. Descalça, movimentando-se com amplitude e completo domínio cênico, Bethânia interpreta as canções com sua habitual entrega, saboreando os versos.

O show tem um roteiro coeso e coerente, dividido em dois blocos (com um intervalo instrumental entre eles) e pontuado por momentos saborosos, como "Não Enche", do irmão Caetano, cantada com particular ênfase, e a versão acelerada de "Na Primeira Manhã", de Alceu Valença. Velhos sucessos do repertório da baiana, como "Negue" e "Fera Ferida", fazem a alegria dos fãs.

Divididos em dois grupos, nos lados do palco, os sete músicos que acompanham a cantora ganham espaço para brilhar individualmente em determinadas canções, como na linda "Em Estado de Poesia", mais uma das composições de Chico César que ganha outra dimensão na voz de Bethânia, e na qual a cantora faz parceria com o piano de Tiso; outra dobradinha notável é com o violão de Paulo Dáfilin na abertura de ªGuaciraº, que depois destaca o celo sinfônico de Marcio Mallard.

Na sequência mais animada e mais aplaudida do show, Bethânia encadeia uma série de canções "caseiras" --"A Nossa Casa", "Marambaia", "A Casa É Sua" e "Minha Casa"-- e coloca, no meio delas, um incrível potpourri de samba de roda da Bahia, no qual emenda trechos de seis músicas, entre elas "Reconvexo", uma de suas assinaturas.

Os pequenos deslizes da apresentação --algumas luzes do cenário não acenderam, alguns trechos de letras foram esquecidos-- são perdoados pelos fãs em meio à comoção geral. Não se sabe ainda quanto do repertório será aproveitado no DVD (que ainda não tem previsão de lançamento), mas é certo que Bethânia tem em mãos material para uma bela produção, registrando esta que é mais uma de suas turnês memoráveis.

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Repertório do show:

"Canções e Momentos"
"Sangrando"
"Salmo"
"A Dona do Raio e do Vento"
"Não Enche"
"Fogueira"
"Casablanca"
"Na Primeira Manhã"
"Calúnia"
"Negue"
"Barulho"
"Fera Ferida"
"Quem me Leva os meus Fantasmas"

Intervalo: "Cais" / "Maria, Maria" (instrumental)

"Festa"
"Dora"
"A Lua Branca"
"Em Estado de Poesia"
"Guacira"
"A Nossa Casa"
"Marambaia"
"A Casa É Sua"
Potpourri samba de roda: "Tarasca Guidon"/"Cavaleiro"/"Quixabeira"/"Reconvexo"/"Minha Senhora"/"Viola, Meu Bem"
"Minha Casa"
"O Velho Francisco"
"Carta de Amor"
"Escândalo"
"Salmo"/"Canções e Momentos"

Bis:
"Mensagem"
"Explode Coração"
"O que É, o que É"


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