Folha de S. Paulo


Mostra exibe a estranheza do cinema de David Lynch

Imagens que remetem aos sonhos --bons ou ruins-- e um extremo cuidado com o som formam um universo próprio na obra do cineasta David Lynch.

Entre esta terça-feira (16) e o dia 28 o público paulistano poderá ver na Caixa Cultural uma extensa programação do diretor norte-americano, autor de filmes que, quando lançados, nunca passaram despercebidos.

Será a chance de ver longas obscuros do diretor --como "Eraserhead", sua estreia na direção, de 1977-- e de rever outros que tiveram lançamento comercial no Brasil, como "O Homem Elefante" (1980), "A Estrada Perdida" (1997) e "Cidade dos Sonhos" (2001).

Editoria de Arte/Folhapress

A retrospectiva também contempla projetos para a televisão, como a cultuada série "Twin Peaks" (1990-1991) --que tem o episódio piloto exibido-- e capítulos de outras duas que não emplacaram: "On the Air" (1992) e "Hotel Room" (1993).

Segundo o curador Mario Abbade, a mostra pretende desmistificar a obra do cineasta, às vezes tomado por difícil ou apenas provocador.

"As pessoas costumam ter um olhar de estranhamento ao Lynch, como se ele fosse um cineasta intelectual. A retrospectiva mostra que pode haver bom entretenimento ali se a pessoa estiver aberta a pensar", diz.

Dois filmes ajudam a entender o universo do realizador. "Pretty as a Picture: The Art of David Lynch", é um documentário produzido por Toby Keeler durante as filmagens de "A Estrada Perdida".

Em outro documentário, "Ruth Roses and Revolver", Lynch trata do surrealismo --movimento artístico citado como uma de suas influências-- em um programa para a BBC.

DEBATE

Na quinta-feira, dia 18, haverá um debate com o curador, o crítico Paulo Santos Lima e o cineasta Marco Dutra.

Apesar de, segundo ele, até então nunca haver conscientemente relacionado seu trabalho ao de Lynch, Dutra (diretor de "Trabalhar Cansa") aponta um traço comum. "Em meu trabalho, todas as relações humanas são levemente perturbadas, fora do eixo. Vejo um pouco disso também em Lynch."

O brasileiro destaca os esforços do norte-americano para levar a expressão audiovisual aos seus limites: "É muito raro um diretor transitar por tantas áreas. Ele fez basicamente tudo de audiovisual que pode ser feito".

Dutra valoriza o bom uso técnico que Lynch faz da deformação do som em sua análise complexa da sociedade norte-americana, "mas, como todo bom diretor, é o conteúdo que dita a forma".


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