Folha de S. Paulo


Morre o crítico de cinema americano Roger Ebert, aos 70 anos

O crítico de cinema mais famoso dos Estados Unidos, Roger Ebert, morreu nesta quinta-feira (4), aos 70 anos. Ele foi o primeiro crítico de cinema a ganhar o prêmio Pulitzer, em 1975.

Ebert sofria de câncer desde 2002, com um tumor na tiroide e, posteriormente, nas glândulas salivares. Recentemente, ele afirmou que estava passando por quimioterapia para poder retornar ao trabalho.

Aos poucos, enquanto lutava contra a doença, ele deixou de comer, de beber e de falar. Segundo o "New York Times", ele se alimentava por um tubo. Mesmo assim, continuou escrevendo suas críticas.

"Quando estou escrevendo, meus problemas se tornam invisíveis, e eu sou a mesma pessoa que sempre fui", disse à revista "Esquire", em 2010. "Tudo está bem. Eu estou como deveria estar."

Fred Prouser/Reuters
O crítico de cinema Roger Ebert, em imagem de 2003
O crítico de cinema Roger Ebert, em imagem de 2003

O crítico trabalhou no jornal "The Chicago Sun-Times" por quase 50 anos. Suas críticas tinham a capacidade de fazer o nome de um filme, ou acabar com ele.

Seu último texto foi publicado em 27 de março. Estima-se que tenha publicado mais de 5.000 críticas.

Admirador de Pauline Kael (1919-2001), crítica que impulsionou a carreira de cineastas como Martin Scorsese, Brian De Palma e Francis Ford Coppola, Ebert dizia seguir o método dela.

"Eu vou ao cinema, assisto ao filme, e depois me pergunto o que aconteceu comigo nesse tempo."

Entre seus filmes favoritos, estavam "Cidadão Kane" (Orson Welles, 1941), "A Doce Vida" (Federico Fellini, 1960), "Gritos e Sussurros" (Ingmar Bergman, 1972) "Faça a Coisa Certa" (Spike Lee, 1989), "Quero Ser John Malkovich" (Spike Jonze, 1999), e "A Separação" (Asghar Farhadi, 2011).

Em 2012, escolheu "Argo" como filme do ano. O filme de Ben Affleck venceu o Oscar em fevereiro deste ano.

CARREIRA

Nascido em 18 de junho de 1942, Roger Ebert começou a escrever para o jornal "The Chicago Sun-Times" em 1967.

Ele havia começado produzindo alguns obituários para estrelas cinematográficas como Walt Disney e Jayne Mansfield, sem qualquer treinamento prévio ou estudo de cinema --sua formação era em literatura inglesa. Aos poucos, foi recebendo muitas correspondências dos leitores e conseguiu a posição de crítico do jornal.

Ele ganhou fama em todo o território americano quando, a partir de 1982, apresentou um programa ao lado de Gene Siskel (crítico de cinema do jornal rival, o "Chicago Tribune"), chamado "At the Movies" (em português, "no cinema").

Depois, os dois criaram, em 1986, o programa "Siskel & Ebert & The Moveis", que ia ao ar aos sábados. No programa, Siskel e Ebert desmistificavam a crítica de cinema ao conversar de maneira popular sobre diversos filmes.

Lá, criaram o sistema de avaliação "thumps-up" e "thumbs-down", no qual exibiam um polegar apontando para cima para indicar aprovação, e para baixo para indicar rejeição a uma obra. Dois "polegares para cima" indicavam uma aprovação máxima.

Siskel morreu devido a um tumor cerebral em 1999, e Ebert continuou o programa com Richard Roeper (também crítico do "Sun-Times") até 2006. Naquele ano, Ebert perdeu parte de seu maxilar devido ao câncer.

Depois de ser operado duas vezes por causa de um tumor na tireoide, o crítico descobriu que tinha câncer também na glândula salivar.

Em 2005, ele ganhou sua própria estrela na Calçada da Fama de Hollywood, tornando-se o primeiro crítico a receber a honraria.

Desde 1999, ele era o apresentador do festival de cinema Ebertfest, na cidade de Champaign, em Illinois.


Endereço da página: