Folha de S. Paulo


Crítica: Com "pegada", Bethânia trança textos e canções em novo show

Maria Bethânia está descalça sobre um tapete prateado de tiras entrelaçadas. Canta sobre o ofício de casar canções e momentos, a voz como instrumento. A plateia aplaude empolgada já desde pelo menos a primeira campainha de aviso, há uns dez minutos. Faz sentido: entre as músicas, durante o show, praticamente não há espaço para as palmas.

Bethânia abre turnê de "Carta de Amor" em São Paulo

As canções, curtas e intensas, se trançam como os pedaços cor de prata do chão cenográfico aos pés da cantora, efeito visual também traduzido em dezenas de lâmpadas que descem do teto amarradas a fios e espaçadas simetricamente através do palco.

É a estreia em São Paulo (com ingressos esgotados) em pleno sábado de aleluia da turnê "Carta de Amor", dedicada principalmente ao recente disco "Oásis de Bethânia". Ela canta acompanhada de sete músicos, liderados pelo pianista Wagner Tiso, tocando teclado. É seu primeiro espetáculo em mais de 20 anos sem a companhia do violonista Jaime Alem, seu antigo diretor musical. Bethânia buscava mais pegada, se colocou em situação nova, encontrou.

João Milet Meirelles/Divulgação
A cantora Maria Bethânia apresenta a turnê
A cantora Maria Bethânia apresenta sua nova turnê, "Carta de Amor", com uma série de shows em todo o Brasil

O ritmo é como de seus clássicos "Drama 3º Ato" e "Rosa dos Ventos", fluxo contínuo sem repouso no tempo fraco, entremeando fortes textos com dezenas de músicas em hora e meia de show, com roteiro afiado e banda sincronizada. Com interpretação perfeita, não apenas cantora, mais que atriz, Bethânia é canalizadora de intensidade. Sua arte é sua presença.

"O raio de Iansã sou eu", canta ela. O ritmo do samba de roda esquenta o lugar. Texto. Entra "Não Enche", do irmão Caetano Veloso: "Vagaba! Vampira! Tarada! Mesquinha!" O bloco fecha com o grande hit "Fera ferida" (de Roberto e Erasmo) seguida da inédita em sua voz "Quem me leva os meus fantasmas" (do português Pedro Abrunhosa), ponto alto.

O breve interlúdio entre o primeiro e o segundo ato é momento instrumental com toque de Minas no arranjo de Tiso com a banda. A cantora volta cruzando Gonzaguinha e Caymmi, seguindo com Chiquinha Gonzaga e Chico César. Belo momento é "A Nossa Casa" (de Arnaldo Antunes) com viola e gosto brejeiro, "a nossa casa é onde a gente está". Vem grande versão de "Reconvexo" (de Caetano) enlaçada com sambas de roda de domínio público e, pouco depois, ápice, na faixa-título do show, "Carta de Amor". "Não mexe comigo, que eu não ando só", ela canta. O público sente junto.

CARTA DE AMOR - MARIA BETHÂNIA
QUANDO: ter. (2), às 21h30
ONDE: HSBC Brasil (r. Bragança Paulista, 1.281; tel. 0/xx/11/4003-1212)
QUANTO: R$ 100 (ingressos esgotados)
CLASSIFICAÇÃO: 14 anos
AVALIAÇÃO: ótimo

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Veja a agenda de shows da turnê de "Carta de Amor", de Maria Bethânia:

13 e 14/4 sáb. e dom. - Rio - Vivo Rio
19/4 - sex. - Recife - Teatro Guararapes
21/4 - dom. - Aracaju - Teatro Tobias Barreto
27/4 - sáb. - Curitiba - Teatro Guaíra
3/5 - sex. - Goiânia - Teatro Rio Vermelho
5/5 - dom. - Brasília - Auditório Ulysses Guimarães
11/5 - sáb. - Ribeirão Preto (SP) - Theatro Dom Pedro 2º
18/5 - sáb. - Poços de Caldas (MG) - Ginásio Arthur de Mendonça Chaves


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