Folha de S. Paulo


Bailarinos do país se destacam em grupos internacionais e premiações de novos talentos

Thiago Soares, Roberta Marquez, Mariana Gomes, Carla Körbes, Marcelo Gomes. A lista de bailarinos brasileiros que consolidaram suas carreiras em renomadas companhias de dança do exterior não para de crescer.

Bailarina de Porto Alegre é estrela nos EUA

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Há poucas semanas, Carla Körbes, 31, chamou a atenção da crítica norte-americana por sua interpretação no balé "Romeu e Julieta", ao dançar com os cabelos soltos, de forma leve e segura. Nascida em Porto Alegre, ela mora nos EUA desde os 15 anos e hoje é a principal bailarina do Pacific Northwest Ballet, de Seattle.

Christophe Simon/AFP
A bailarina brasileira Roberta Marquez dá aula para alunos do Royal Opera House, no Theatro Municipal do Rio
A bailarina brasileira Roberta Marquez dá aula para alunos do Royal Opera House, no Theatro Municipal do Rio

Para Peter Rosenwald, crítico que trabalhou durante 17 anos para o "The Wall Street Journal" e que hoje vive no Brasil, o que mais chama a atenção no trabalho dos brasileiros é a energia.

"Os melhores bailarinos brasileiros são como os melhores jogadores de futebol: eles têm uma energia tremenda. Você consegue sentir isso em cena", avalia.

CATEGORIAS DE BASE

Além das iniciativas privadas, a dança brasileira vem sendo apoiada por meio de diferentes projetos sociais que abrem portas para jovens bailarinos talentosos.

É o caso do Dançar a Vida, que existe há 14 anos, associado à escola particular Petite Danse, do Rio de Janeiro, e que já exportou jovens estrelas como Mayara Magri, 17, hoje no The Royal Ballet, em Londres, e Letícia Dias, de 16.

Ela e o menino Adhonay Silva, de Goiânia, acabaram de se destacar no 41º Prix de Lausanne, na Suíça, realizado em fevereiro. A premiação anual, criada em 1973, busca descobrir talentos e incentivar bailarinos de 15 a 18 anos, concedendo bolsas de estudo.

Entre os mais de 250 inscritos do mundo todo, os dois brasileiros ficaram entre os oito vencedores.

Adhonay, 15, que estuda balé no Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França (CEPABF), ficou com o primeiro lugar.

Letícia foi a única menina premiada e ficou em quarto. "Eu estava nervosa, mas me saí melhor do que esperava", diz a jovem.

Desde os oito anos ela é aluna da escola Petite Danse e do Dançar a Vida, que hoje incentiva cerca de 170 alunos de escolas públicas no ensino da dança.

A partir de setembro, Letícia vai morar sozinha em Londres para terminar os estudos na Royal Ballet School.

Nelma Darze, diretora artística da Petite Danse e coordenadora do projeto Dançar a Vida, acredita que os bailarinos brasileiros estão em evidência. "O tempo todo recebemos convites internacionais", conta. Hoje, 16 alunos da escola estão espalhados por companhias do mundo.

Para ela, essa maior visibilidade também se deve ao fato de estarem havendo mais seletivas de dança por aqui.

Entre elas, está o Youth America Grand Prix, de Nova York, que tem como foco as crianças e os adolescentes de oito a 19 anos de idade. No Brasil, a competição é realizada pelo Instituto Passo de Arte, de Santo André (SP).

"Percebe-se que os bailarinos brasileiros estão passando por treinamentos de alta qualidade", diz Donald Hutera, crítico de dança do jornal "The Times", de Londres.

TÉCNICA E ESCOLHAS

Thiago Soares, 31, nascido em Niterói, está há 13 anos fora do país e é, desde 2006, o primeiro bailarino do The Royal Ballet, principal companhia britânica. Ele afirma que o Brasil sempre produziu bons bailarinos.

"O Brasil está se desenvolvendo de forma geral e isso se reflete nas artes. Eu estava bem preparado, mas vim para a Inglaterra porque queria novos desafios", diz.

Soares trabalha ao lado de outra estrela, a carioca Roberta Marquez, 30, que entrou para a companhia em 2004, já como primeira bailarina.

Ela foi aluna da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, no Rio. "Tenho orgulho em dizer que meus estudos de balé foram 100% feitos no Brasil", diz Marquez.

Nas últimas filas do corpo de baile da companhia está a carioca Mayara Magri. "Ela está no caminho certo e será uma estrela", aposta Soares.

Segundo a pesquisadora de dança Cássia Navas, professora do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas, bailarinos do país marcam presença no exterior desde os anos 1970, principalmente em companhias modernas. "Mas os que ganham mais destaque hoje são os que entram em reconhecidas companhias clássicas."

Cássia diz que vivemos, sim, um momento especial na dança. "Estamos formando bons profissionais e temos propostas coreográficas criativas. É um panorama promissor."


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