Folha de S. Paulo


Crítica: Personagem de Spielberg em "Lincoln" diz para Obama fazer a coisa certa

Uma parcela considerável dos filmes recentes de Steven Spielberg pode ser interpretada como uma série de metáforas sobre a política americana. Seja nas obras históricas ou nas ficções futuristas, há quase sempre uma mensagem para o presente.

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Em "Lincoln", a tendência se aprofunda, a metáfora nunca foi tão direta. Estamos em janeiro de 1865, com um país destruído pela guerra civil, radicalmente dividido em torno da questão da escravatura e Abraham Lincoln reeleito para a presidência.

Divulgação
O ator Daniel Day-Lewis protagoniza o filme
O ator Daniel Day-Lewis protagoniza o filme "Lincoln", dirigido por Steven Spielberg

Mas também estamos em janeiro de 2013, com o país abalado pela crise econômica, rachado politicamente e Barack Obama empossado para seu segundo mandato.

De distinção mais relevante entre um tempo e outro, há uma inversão de papéis partidários: no passado, os republicanos carregavam a bandeira progressista, a favor da abolição; e os democratas eram, grosso modo, o Tea Party do momento.

Nesse cenário, Lincoln (Daniel Day-Lewis) surge como o único homem capaz de liderar o país para abolir a escravidão e acabar com a guerra. É um recado claro ao presente, mas um recado sóbrio: o cinema de Spielberg nunca foi tão falado e tão pouco espetacular; tão clássico e, em certos momentos, tão solene.

O melhor do cineasta seguem sendo suas peças de "divertissement" ("Tubarão", o primeiro "Indiana Jones"). Mas "Lincoln" junta-se ao núcleo de seus filmes "adultos", logo abaixo de "Munique".

Para tanto, o trabalho de Day-Lewis é essencial. Seu Lincoln é por vezes humano e por vezes monumental.

Mas ele é, acima de tudo, um fantasma moral, vagando pela Casa Branca, sussurrando para seus contemporâneos, mas também para um longínquo sucessor: "Obama, faça a coisa certa".

LINCOLN
DIREÇÃO Steven Spielberg
PRODUÇÃO EUA, 2012
ONDE Reserva Cultural, Cidade Jardim e circuito
CLASSIFICAÇÃO 10 anos
AVALIAÇÃO bom


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