Folha de S. Paulo


Guitarrista que compõe e se comunica pelos olhos ganha documentário

Logo que diagnosticaram o guitarrista norte-americano Jason Becker com a doença de Lou Gehrig --esclerose lateral amiotrófica, uma enfermidade degenerativa que o deixou quase sem movimentos--, os médicos disseram que ele teria apenas mais três anos de vida.

Na época, Jason tinha 20 anos de idade. Hoje, aos 43, ele comemora cada aniversário em que desafia a ciência.

Fascinado pela história, o produtor Jesse Vile convenceu a família a fazer um filme para contar a história do guitarrista --antes e depois do diagnóstico.

"Jason Becker: Not Dead Yet" (Jason Becker: ainda não morto) mostra a infância do músico, a época em que tocou na banda Cacophony (com o também guitarrista Marty Friedman, ex-Megadeth), as gravações de um álbum solo do vocalista David Lee Roth (Van Halen), e, principalmente, a sua força de vontade.

O filme mostra desde Jason ainda garoto, tocando guitarra constantemente, até imagens das turnês com o Cacophony. "Ficamos felizes em lembrar como Jason era sempre despreocupado, divertido e engraçado. Isso foi importante para nós. Ele era muito atlético, adora futebol, jogou basquete e futebol entre estudar e tocar guitarra"

"Jesse Vile entrou em contato através de e-mails em 2009. Naquela época, estávamos todos desanimados porque muitas coisas que deveriam ter acontecido para Jason não aconteceram, então ele estava se sentindo triste com as ofertas de filmes, livros e outras oportunidades", disse à Folha a mãe do guitarrista, Pat Becker.

"Jason me pediu para falar com Vile e ver se eu achava que valeria a pena o esforço. Depois de alguns e-mails, concluímos que ele tinha uma boa ideia sobre como contar a história. Ele trouxe a equipe, câmeras, as pessoas de som e assistentes de direção, e Jesse fez o projeto ficar divertido, interessante. Estamos todos muito satisfeitos com o filme."

DIAGNÓSTICO

A descoberta da doença aconteceu no auge da carreira de Jason Becker, a uma semana de um show com David Lee Roth. "Estávamos destruídos emocionalmente e chorando muito, mas ele estava bem melhor do que nós", afirma a mãe do músico. "Ele estava tão feliz em estar na banda de Dave que parecia não ligar muito para o que estava acontecendo. Quando os problemas físicos apareceram, porém, Jason perdeu o chão."

Veja vídeo

Segundo Pat Becker, David Lee Roth foi um dos amigos que deram apoio a Jason após o diagnóstico. "O pai de David era médico e ofereceu ajuda nesse sentido. Apesar de todo o problema, eles me disseram que estavam animados com a juventude, o talento e a alegria de Jason, e isso nos deixou muito felizes na época."

Outro apoio importante foi Marty Friedman. "Jason muitas vezes disse para a gente: 'Eu não seria nada sem Marty'. Quando eles se conheceram, ele ainda estava na escola, e Marty já tinha tocado em vários lugares. Jason realmente o observou e o estudou musicalmente, não só porque a sua técnica é incrível, mas porque eles eram melhores amigos e tinha muito em comum a mais de música."

Mais tarde, amigos de Jason desenvolveram um programa de computador em que ele usa os olhos para se comunicar e compor. Entre suas obras, está uma sinfonia.

"Estamos todos surpresos com o que Jason pode fazer apenas com os olhos", afirma a mãe. "Ele tem a música na cabeça e é capaz de tirá-la usando esse sistema de comunicação visual, que interpreta os pedidos de notas de Jason. Quando ele está satisfeito, as notas vão para o computador."

Todo o catálogo de Jason Becker está fora do mercado, mas, em outubro de 2012, ele lançou "Boy Meets Guitar", um CD que reúne gravações de sua adolescência. "Além disso, há uma música em que ele está trabalhando chamada "Magic Woman", que ele está pensando em colocar em um disco também", diz a mãe.


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